Revista da ESPM

REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇODE 2020 94 Qualificaçãodigital eofuturodotrabalho Ocaminho para amenizar o impacto da tecnologia sobre o futuro do trabalho é umsó: digital upskilling . Emoutras palavras, não basta realizar grandes investimentos em tecnologia, é preciso capacitar as pessoas a usá-la! Por FábioCajazeira PERSPECTIVA O spróximosanosserãomarcadosporavanço aindamais dramático da tecnologia sobre atividades de trabalho tradicionalmente executadas por seres humanos. A com- binação entre inteligência artificial, tecnologia que a cada dia atinge estágios mais elevados de maturidade, e a robótica avançada pode pôr em risco três em cada dez empregos atualmente existentes até 2030, de acordo com um estudo global da PwC. Mas esta não é, definitivamente, uma questão para daqui dez anos. Tarefas laborais repetitivas já vêmsendo automatizadas em grande escala, e os efeitos dessa transformação digital sobre a força de trabalho vêm sendo sentidos, com reflexos sobre a estabilidade polí- tica e social dos países e sobre os resultados das organi- zações. O crescimento do populismo emvárias regiões do planeta — cujo efeito recentemais evidente é o Brexit — decorre, emparte, de uma reação das populações, que se veemameaçadas pela globalização e pela automação, diante de umcrescimento acentuado das desigualdades de renda e de oportunidades e do consequente aumento do pessimismo sobre o futuro. Em janeiro deste ano, aOrganização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um levantamento que aponta um nível de desemprego alarmante no mundo — 190 milhões de pessoas estarão fora domercado de trabalho em2020. NoBrasil, os númerosmostramque nãohá pre- visão de melhora no futuro próximo — a taxa deve ficar entre 11,5% e 12% da população economicamente ativa até 2024. A situação é aindamais preocupante entre os jovens de 18 a 24 anos, que deveriam ter vantagem em uma economia crescentemente digital — o desemprego nessa faixa etária ficou em 31,3 % no quarto trimestre de 2019, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A existência de uma massa de pessoas em busca de recolocação profissional não significa, porém, que não existamoportunidades de trabalho. No setor de TI, por exemplo, estimativasdaAssociaçãoBrasileiradasEmpre- sas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brass- com) indicam a existência de 845 mil vagas abertas. A entidade estima que poderá haver umdéficit de 290mil profissionais em 2024 neste setor nos próximos anos. O que existe, na verdade, é um gap digital, que vai além das empresas de tecnologia e já representa uma preocupação relevante para as organizações de dife- rentes setores ao redor domundo. Oito emcada dez exe- cutivos ouvidos por nossa pesquisa anual Global CEO Survey indicam que a falta de qualificação da força de trabalho não apenas contribui para os altos índices de turnover , como tambémprejudica os resultados e a lon- gevidade das empresas. Este cenário, tanto pela perspectiva social como por uma visão de negócios, tende a se tornar mais grave à medida que algoritmos e máquinas inteligentes come- çarem a concorrer de forma mais direta pelas funções laborais — da indústria aos serviços, passando pela agri- cultura e por atividades ligadas à área da saúde.

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