Revista de Jornalismo ESPM
10 JANEIRO | JUNHO 2021 ciclo de seu desenvolvimento, em queanovidadese tornaatraentepara uma massa maior de consumidores que, para dar sustentação aomodelo, entrega a ele toda sua capacidade de consumo: é o momento em que ele passaa ser vistocomo“viciante”pela sociedade não acostumada. Dos pri- meirospoucosconsumidores,osmeios novosprecisamtiraratéoúltimocen- tavooutempo.Éummomentoemque umapequenaquantidadedeusuários consome todo seu tempo, energia ou capacidadedeatençãoaoprópriosis- tema:oespectadoréviciadopelomeio novo. Àmedida que cresce o número deconsumidores,essafidelidadepode sermenor,paracadaconsumidor,por- que o meio novo já estabeleceu uma economia de escala. Osmeiosnovosemsuarotadecres- cimento passam por um momento vicianteedepoisvãosetornandomais benignos, namedida emque sepopu- larizametambémdiantedareaçãoda sociedadeàsmanifestaçõesdecompor- tamento disfuncional de alguns con- sumidores. Ocorre sempre uma rea- ção vocalizada por nãousuários (com a televisão e a internet, forampais ou pessoasmaisvelhas,criticandoovício dos filhos ou jovens), que atacam o aspectoestupefacientedousodomeio novo e seus conteúdos, usando para sua denúncia os velhosmeios (contra aTV,usaramparasuadenúnciaosjor- nais e revistas; contraamídias sociais, os jornais, as revistas e a TV). Emum texto sobreo impactodousode inter- net por crianças, o psicanalista Pedro deSantidescreveareaçãodeSigmund Freudàdisseminaçãodotelefone(que ao tempo de Freud vivia seu terceiro ciclo, a fasedemassificaçãoe “vício”): nossa relação com as transformações culturaiseatecnologiaésempreambi- valente. Freud escreveu um de seus livros mais importantes justamente tratandodeseuscustoseganhos,em O mal-estardacivilização (1931):“Graças aotelefone,podemosfalarcomnossos parentesdistantes,masfoitambémgra- ças ao telefone e aos demais recursos tecnológicosqueesseparente,afinal,se distanciou”, retrata De Santi, no livro PensadoresdaLiberdade:Liberdadeea Construção da Cidadania , organizado por Patrícia Blanco (Instituto Palavra Aberta, 2017). A“educaçãomidiática”dosusuários e a reação da sociedade, incluindo os meios velhos emsua autodefesapara sobrevivência, simultâneas à prolife- raçãodoconsumo, atenuamascarac- terísticas criticadas e ampliamo uni- verso de consumo. Emvez de consu- mir todas as horas e energias de um grupomenorde earlyadopters , a rota docrescimentodabasedeconsumido- res resultaemumaescalabaseadaem umconsumomenorpercapitaemais umuniversomaiordeconsumidores. Onegócio se tornamassivo, nasce ummeio de comunicação demassa, commassas de consumidores e um pequeno número de empresas for- tes. Nesse momento, necessaria- mente, os usuários passam à con- dição de consumidores ou majori- tariamente receptores; os empre- endimentos dominantes passam a ser ou contratar emissores. O equi- líbrio dos papéis se rompe, poucas entidades com papel de emissores (sejam o Estado, empresas, igrejas ou polos de irradiação política ou ideológica) assumem uma domi- nância unívoca. Suamensagempre- enche a rede de consumidores e a resposta ou a mensagem das mas- sas de usuários perde potência ou relevância, relativamente ao núcleo dominante. No caso do rádio e da TV a cabo, por exemplo, o desen- volvimento tecnológico do meio, originalmente dual, se estabelece como unívoco, a massificação dos aparelhos de rádio se deu comequi- pamentos receptores; a TV a cabo, também (embora possa permitir ummão dupla de comunicação, ela é efetivamente um meio unívoco). Ofuncionamentodainternetcomo uma rede neural, concebida com plasticidadeparaque adestruiçãode inúmeros segmentos não interrom- pesse o fluxo contínuo de transmis- sãodedados e conteúdos deumlado para outro, torna mais difícil a per- cepçãodo estabelecimentoda domi- nânciacomoumanovabroadcastiza- ção de fato. Afinal, quando o consu- midor de umamensagema retrans- mite, deumpontodevistaclássicoda Teoria da Informação, de Shannon e Weaver, descrita por Gabriel Cohn em Comunicação e Indústria Cultu- ral (Companhia Editora Nacional, 1971) e Marcondes Filho em Dicio- nário da comunicação (Editora Pau- “Pesquisas recentes sobre o trato de notícias ou informações de interesse público por usuários de redes sociais mostram que essa passividade informacional já é característica do meio”
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