Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 11 lus, 2014): “O receptor que recebe a informação e a repassa éumemissor que ao final do canal de transmissão temoutro receptor, que recebe inte- gralmente a mensagem”. Adominânciadaredeseestabelece quandoumemissor transmiteconte- údos que são recebidos pormilhões de receptores que os retransmitem como fiéis repetememumculto reli- gioso as palavras do pastor. Estabe- lece-seumdesequilíbrio informacio- nal. Opapel de emissor está concen- trado; os receptores se estabelecem como uma platéia passiva quanto à formulação ou à agregação de infor- mações; amaioria dos receptores se torna mera disseminadora, como caixa de ressonância. Tecnicamente, é como se o canal passasse a ter um fluxo contínuo de informação entre um polo emissor e todos os recep- tores. Há pouca ou nenhuma infor- mação nova agregada por qualquer desses receptores potenciais emisso- res (no caso das novas mídias, é fre- quentemente uma simples expres- são de endosso que apresenta um link ou post compartilhado). Pesquisas recentes sobre o trato de notícias ou informações de inte- resse público por usuários de redes sociais mostram que essa passivi- dade informacional já é caracte- rística. Em uma análise da circula- ção de notícias sobre o incêndio na boateKiss, emSantaMaria (RS), em 2013, no Twitter e no Facebook, a pesquisadoraMaíra de Souza mos- trou que, no Twitter, “a principal ação participativa realizada pelos usuários foi o filtro social, no caso, o retweet. Em todas as publicações o retweetar foi superior ao respon- der”, aponta a autora no artigo A dinâmica da notícia nas redes sociais na internet: uma categorização das ações participativas dos usuários no Twitter e no Facebook . (Intexto 33, maio de 2015). Sempre trabalhando sobre repor- tagens do jornal OEstado de S.Paulo , ela aponta idêntico comportamento no Facebook, onde “as principais ações participativas realizadas pelos usuários são relacionadas à catego- ria filtro social – o curtir e o com- partilhar. (...) Ao todo, das 69 pos- tagens, 51 receberammais curtidas, 14 mais compartilhamentos e qua- tro mais comentários”. Ou seja: os usuários comportam-se comomeros correios de transmissão de conteú- dos postados por um agente domi- nante, no caso o jornal. O mesmo se dá com a dissemi- nação de fake news, como mostra o recente estudo “ Covid-19, desin- formação e Facebook: circulação de URLs sobre a hidroxicloroquina em páginas e grupos públicos ”, feito por Felipe Bonow Soares, Paula Viegas, Carolina Bonoto e Raquel Recuero, da Universidade Fede- ral do Rio Grande do Sul (dispo- nível em https://doi.org/10.1590/ SciELOPreprints.1476). A dominância unívoca das redes sociais por grandes players, sejam empresas, governos, igrejas ou gru- pos políticos, reproduz de forma inexorável o movimento ocor- rido com todos os meios anterio- res, de concentração do papel de emissor, do poder da palavra, por assim dizer. E é assim que assisti- mos à fase de broadcastização das mídias sociais. ■ leao serva é professor do curso de graduação em jornalismo da ESPM e diretor de jornalismo da TV Cultura-SP. É autor dos livros Jornalismo e Desinformação (Senac) e A Desintegração dos Jornais (Reflexão). Retweet de notícias foi a principal ação dos internautas depois do incêndio na boateKiss (RS) WALMIR MENEZES/FOTOARENA
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1