Revista de Jornalismo ESPM
14 JANEIRO | JUNHO 2021 “Na época da velha mídia, era possível falar do conteúdo, mas não podia editá-lo, compartilhá-lo, posicionar-se publicamente sobre ele – nada disso podia. Hoje pode!” Considerar a distribuição de con- teúdos de forma unidirecional nas redes é fazer confusão com o seu DNA interativo. Insistir que esse fenômeno se repete na nova mídia significa ler este “acontecendo” com olhos e raciocínioanalógicos. Ea rea- lidadedigital cobracarodequemnão aenxerga como tal: digital. Enquanto raciocínios analógicos embalarem as operações da nova mídia, quem perde é exatamente aquela empresa ouprofissional que não enxerga cor- retamente o ambiente digital ouo vê comomero receptáculo de transpo- sição dos conteúdos tradicionais. Casoos profissionais de imprensa tivessemlido, compreendidoe levado a sério um pequeno livro publicado em 1995 poderiam ter-se adiantado – como se adiantaramGoogle, Face- book e seus congêneres chineses. Nesse livro, Avidadigital , oprofessor doMassachusetts Institute of Tech- nology (MIT) Nicholas Negroponte explicaadiferençafundamentalentre átomos e bits. Entre água, papel, CD, videocassete,vidroeamenorunidade da informação (o bit). Na página 10, Negroponte desvenda o misterioso futuro de forma simplória: “Amovi- mentação regular demúsica gravada empedaçõesdeplástico, assimcomo o lento manuseio humano da maior parte da informação, sob a forma de livros, revistas, jornais e videocasse- tes, está emvia de se transformar na transferência instantânea e barata de dados eletrônicos movendo-se à velocidade da luz”. Mais adiante, ele profetiza com todas as letras que esse futuro seria determinado pela possibilidade de produtos e serviços adquiriremformadigital.Presteaten- ção nos termos: “produtos” e “servi- ços”. Estes dois termos são a chave para entender o desafio que a digi- talização trouxe para a indústria da comunicação como um todo. Cabe dizer aqui que a forma de apreensão de conhecimentomudou radicalmente desde que emergiu a novamídia.Antes, aprendia-semajo- ritariamentecomlivroseprofessores. Hoje,alémdoslivros,aprende-secom as redes, as séries, osgames, amúsica, os filmes e até com os professores. Nova broadcastização: uma ideia equivocada No texto intitulado Anova broadcas- tização ou “dominância unívoca” das redes sociais , Leão Serva afirma que “todos os novos meios de comunica- ção nascem com vocação biunívoca, dualoudialógica,quandoobservamos sua infraestruturae funcionamento”. Na sequência, vem outra afirmação ousada, e o grifo é meu: “E todos se tornamunidirecionais, pelohábitodo uso ou por desenvolvimentos tecno- lógicos, àmedidaquesemassificame constituem seu sistema econômico”. Não vou discutir a observação sofrível deque “todos osnovosmeios decomunicaçãonascemcomvocação biunívoca”, porque falta espaço. Vou me concentrar na afirmaçãode exis- tência de comunicação unívoca via veículos digitais. Voume ater à afir- mação de que todos se tornam uni- direcionais. Internet, redes sociais, tudo isso que surgiu e tem o poder de desmontar de forma irrecuperá- vel osmodelos de comunicação e de negócio da velha indústria damídia. Ele insiste: “Omesmo [a comuni- cação unidirecional] está ocorrendo nestes tempos com os novos meios chamados ‘mídias sociais’, que utili- zam a internet como plataforma de transmissão de seus dados ou con- teúdos. No entanto, pela natureza peculiar da infraestrutura da inter- net, uma rede de nós que funcionam como emissores/receptores iguais entre si, é mais difícil identificar o momento em que a imensa maioria dosusuáriosdas redes sociaisdeixao papel de emissores para se tornarem consumidoresdefato,aindaquecom- partilhem conteúdos ativamente”. Emsua ajuda, ele convoca o hún- garo Tamas Tofalvy, professor da Universidade de Budapeste, por meio do texto The broadcastization of the net: The algorithm-driven pla- tform ecosystem and its consequen- ces for digital Journalism , um título que pode ser traduzido livremente
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