Revista de Jornalismo ESPM
16 JANEIRO | JUNHO 2021 mente. Um único emissor, um ente central, pode, sim, ser o responsável por determinada informação, ou opi- nião, dado que ela pode ser distribu- ídaem larga escala nas redes direta- mente para cada ente digital. Este, por sua vez, pode (ou não) redistri- buí-la emsua integridade oucomen- tada. E essas pessoas deixam de ser consumidores para ser emissores. Na velha mídia, quem garantia a credibilidade da informação era um único veículo – ele publicava o texto oudivulgavaas imagenseáudiospara que fossemrecepcionados por quem estavainteressadonaquilo,ounaquele veículo.Quemvia(eaindavê)umpro- gramadaTVGlobonaTVGloboestá sob a chancela da TVGlobo. Recebe aquele conteúdo sempoder interfe- rir nele. Na épocada velhamídia, era possível falar do conteúdo, mas não podia editá-lo, compartilhá-lo, posi- cionar-se publicamente sobre ele – nada disso podia. Hoje pode. Maisumargumentoaserusadocon- tra a ideia de Leão Serva: na internet, cadaindivíduoqueproduzumpostou compartilha-orealizaumaaçãocontra ou a favor do seu conteúdo. Portanto, eis aí uma distribuiçãomultichance- lada, mesmo e apesar de tal post ter sua origem numa única fonte. O que mudou em relação ao broadcast tra- dicional? A internet torna a reprodu- ção da informação ou opinião (não importaseverdadeiraoufalsa) infini- tamentemaisfácil,maiságil,maispro- dutiva.Nãoimportaseospostsdiscu- tama informaçãooriginal, discordem delaouacorroborem, não importade onde ela tenha vindo. Esse ponto mostra que o jorna- lismoprofissional,paraficarnoexem- plo da imprensa, perdeu seu posto de ator principal da informação. Nestes novos tempos, ele compete em pé de igualdadecomqualquerpessoa, insti- tuição ou empresa comacesso à rede, porque agoraqualquer umtempoder demídia.Osveículosdecomunicação continuam produzindo jornalismo. Contudo, fazem-no como coadjuvan- tes, e não como quarto poder. Acabou omonopólioda informaçãonasmãos da imprensa. Isso não significa que qualquer pessoa possa praticar jorna- lismo.Nãomesmo. Precisa ter técnica paratrabalharnesteofício.Noentanto –vouredundar–,umacoisamudoude forma abrangentee irreversível: qual- querumpodeviraterpoderdemídia. Então, os defensores do conceito de broadcastização aplicado à inter- net poderiamdizer queela facilitoua difusãounidirecional. Facilitou, sim, semdúvida, mas deu a todos os con- sumidores a possibilidade de intera- gir comos conteúdos. Por si só, isso já remete para as calendas gregas a adaptação do conceito aomomento atual. Infelizmente, essa capacidade interativa, no entanto, permite tam- bémousoda redeparadifundir notí- cias falsas e observações distorcidas – ao mesmo tempo que, de forma respeitável, para distribuir conteú- dos com credibilidade produzidos pela imprensaprofissional –objetivo dos veículos sérios de comunicação. O livro pioneiro de Negroponte apresentamais uma razão pela qual a aplicação do conceito de broad- castização não se sustenta na inter- net. Negroponte levantou a bola dos produtos e dos serviços digitais em detrimento dos produtos e serviços que exigiamalgo físico– comopapel de suporte para as notícias, bancas para vender publicações, veículos para distribuir produtos impressos ouaparelhagemsofisticadaparacriar áudio e vídeo para produzir conteú- dos e distribuí-los aos consumido- res. Entender o que é o “produto” na internet é o que importa para sobre- viver a essa tremenda disrupção. Vinte e seis anos depois do livri- nho arguto de Negroponte chegou o documentário O dilema das redes , de Jeff Orlowski (Netflix), para explicar da forma mais simples do mundo que o “produto” desta nova forma de economia é exata- mente você, ou eu, ou seu vizinho. Cada pessoa é que é o produto das plataformas – Google, Facebook, Twitter, TikTok ou o ainda inex- pressivo e elitista Clubhouse. E isso serve para veículos de comu- nicação, blogueiros, influenciado- “Nestes novos tempos, o jornalismo compete em pé de igualdade com qualquer pessoa, instituição ou empresa com acesso à rede, porque agora qualquer um tem poder de mídia”
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