Revista de Jornalismo ESPM

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 17 res etc. – todos que vivem da rede. Se na época do broadcast desen- freado você era o consumidor, agora você é o produto. É você quem, gra- tuitamente, faz alguma pesquisa no Googleecomissoalimentaamáquina tecnológica de entendimento e rele- vância do que cada um dos “produ- tos”quer.Aofalardeumassunto, pes- quisar um tema, um item qualquer, umserviço, umanotícia, não importa em qual rede, você está entregando seusdados e seushábitospara aspla- taformas pelas quais você circula – e elas os vendem na forma de anún- cios direcionados exatamente a suas necessidades oudesejos. Aoperação se sofisticou de tal forma que nos- sas vidas passaram a ser medidas e, de certa forma, “controladas” pelos algoritmos desse ecossistema. Outro ponto a ressaltar é a leitura desse novo tipo de broadcastização, que refleteuma compreensão analó- gica do fenômeno das redes. Preste atenção a este parágrafo do texto de Leão Serva: “A dominância uní- voca das redes sociais por grandes players, sejam empresas, governos, igrejas ougrupos políticos, reproduz de forma inexorável o movimento ocorrido com todos os meios ante- riores, de concentração do papel de emissor, do poder da palavra, por assimdizer. É o que chamo de nova broadcastização” . A passagemnos permite ver que Leão Serva não deixa de lado a cons- tatação inequívoca de que as insti- tuições por ele listadas passaram a ter poder de mídia com a internet – o que era monopólio dos veícu- los de comunicação. Assim, todos nós passamos a assistir a uma pos- sível superdistribuição, conforme conceito desenvolvido por experts , num texto célebre. Distribuição de conteúdos próprios ou de tercei- ros, num movimento que também pode ser chamado de hiperdistri- buição, mas nunca de broadcasti- zação – seria usar um termo ana- lógico, insuficiente para dar conta da enormidade de confluências e compartilhamentos que a inter- net trouxe para o mundo. São pes- soas, instituições, empresas, espe- cialistas, celebridades, publica- ções, blogueiros, cada um publi- cando ou republicando conteúdos que, dessa forma, podem viralizar no ambiente digital – sem o custo que a velha mídia custava, pois era preciso poder econômico para ter poder de mídia. Hoje a internet se define não apenas pelos conteúdos produzidos pelo emissor original, mas também aqueles retrabalha- dos por incontáveis analisadores, comentadores, opinadores, com- partilhadores. Enfim, todos os que tornamestemovimentomuitomais feérico na abordagem – seja para o bem, seja para o mal. É aqui, no mal, que a roda pega. Mas isso já é assunto para outro debate. Agora, nova broadcastização? Nem aqui nem na China. ■ Caio Túlio Costa é jornalista, doutor em comunicação pela USP, foi fellow da Universidade Columbia, emNova York, professor universitário, pioneiro em comunicação digital e sócio-cofundador do Torabit, plataforma de monitoramento digital. Foi editor, secretário de redação, correspondente internacional, ombudsman e diretor de revistas da Folha de S.Paulo . Fundou o UOL e foi diretor-geral da empresa. Em seguida, presidiu o iG. Deu aulas de jornalismo na PUC-SP, na ECA-USP, na Cásper Líbero e na ESPM-SP. Tem livros publicados nas áreas de comunicação e história, entre os quais Ética, jornalismo e nova mídia: uma moral provisória (Zahar, 2009). Na internet, o produto é cada pessoa que utiliza e alimenta as plataformas digitais, como aponta Jeff Orlowski em Odilema das redes DIVULGAÇÃO

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