Revista de Jornalismo ESPM

18 JANEIRO | JUNHO 2021 quando os estados unidos entraramna grande recessão , o emprego nas redações do país começou a despencar. No primeiro semestre de 2009, foram fechados mais de cem jornais americanos; dez mil profissionais da imprensa perderamo emprego. De lá para cá, comamídia digital roubando publicidade do impresso e redes sociais usurpando de meios de comuni- cação, o papel de agregador de informações, a imprensa seguiumandando gente embora –mesmo coma retomada econômica. Segundo o PewRese- arch Center, desde o início da recessão o total de trabalhadores em jornais americanos caiu 51%. Em2016,DonaldTrump trouxeumincômodoalívio: quantomaior aobses- são da imprensa por ele, maior, aparentemente, o número de espectadores e assinantes. Esse empurrão (o “Trump bump”) colocou o jornalismo, e a forma como a notícia é produzida, no centro das atenções do público. Parte dos benefícios — colhidos principalmente por New York Times , Washing- ton Post , CNN eMSNBC— chegou a veículos menores, mas não emquan- tidade suficiente. Durante a era Trump, jornais americanos continuaram penando. Para cada balanço trimestral positivo em um canal a cabo, uma comunidade perdia um repórter de prestígio ou uma publicação inteira. Foi emmeio a esse cenário que, no início de 2020, o coronavírus apa- receu. De lá para cá, a pandemia já matou mais de 500 mil americanos e tirou o emprego de outros 30 milhões, incluindo ao menos 36 mil tra- balhadores da imprensa. Alguns editores aceitaram o corte no salário, outros foram despedidos, certos veículos fecharam. Levas de repórte- res foram demitidas. Quando o inverno chegou, a pandemia piorou e o custo humano foi imenso — bem como o impacto na receita da mídia com publicidade e assinaturas. Muitos meios pequenos receberam Imprensaé forçada a se reinventar por kyle pope alguma ajuda do governo federal, mas a probabilidade de mais auxí- lio é mínima. 2021 chegou junto coma entrada de Joe Biden na Casa Branca e o salto em assinaturas e a audiência recorde registrados pelos grandes veículos de imprensa durante a era Trump se reverteram. “AMSNBC e outrosmeios puxados pela resistên- cia a Trump podem ver a audiência recuar”, disse Ken Lerer, investidor e consultor da mídia, a Ben Smith, do New York Times . O interesse no jornal que emprega Smith tam- bémvai “arrefecer”, previu Lerer. A maioria das organizações jornalísti- cas tem pouca folga no orçamento, o que significa que o sofrido ano de 2020 pode, em breve, se converter em outro mais. Isso tudo é, de certo modo, a má notícia.Mas, obviamente, nada disso é novidade. Nos Estados Unidos, o jornalismo vem lidando com esses desafios há anos, ainda que muitos denós tenhamos sidodistraídos pelo caos que emanava do Salão Oval da Casa Branca. Agora, podemos enca- rar a situação como uma oportuni- dade. Nosso setor, de importância crucial para a sociedade, precisa ser reconstruído e reconcebido. O que queremos preservar e o que deve- mos descartar? Como repensar a narrativa de histórias e a quemcabe narrá-las? Qual é nosso lugar e para onde devemos rumar agora? Esta edição da Revista de Jorna- lismo ESPM traz o retrato de um setor em fluxo, em um momento no qual podemos chorar o que foi perdido e começar a pensar no que já iria tarde. Em textos de opinião, reportagens, infográficos e imagens, examinamos a mídia em transição. Em todo o mundo, o jornalismo busca novas formas de exercer a profissão e prova ser um setor em plena transformação

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