Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 31 Peck trouxe um editor (e, quando essecolaboradorproduzalgummate- rial original, paga do próprio bolso). Embora queira manter a newsletter gratuita, parapoder seguir emfrente ela já cogita incluir uma opção para assinantes que queiram pagar. Idealmente, no entanto, Peck diz queseufuturonemenvolveriaoSubs- tack; seaCoronavirusNews forBlack Folks fosseassimiladaporumgrande veículodecomunicação, digamos, ela teriaequipee recursosparamantero projeto do jeito certo. Peck sabe que isso é pouco provável – pelas mes- mas razões pelas quais foi repelida da mídia convencional em primeiro lugar. “Entrei no jornalismo porque queria escrever sobre e para a comu- nidadenegra”,explica.“Nãohámuito lugarondedêpara fazer issoeganhar umvalordecenteeterbenefícios.Isso varia,masnãoachoquemuitosjorna- listasnegros tenhamuma toneladade opções,foracriarumprojetopróprio.” O que ela temhoje é umporto. “Cer- tas coisas que o Substack dá de graça ajudama gente a criar nosso próprio projeto”, continuou. “Precisamos de muito mais do que isso, mas vamos nos virando como que temos.” Commais jornalistas embarcando em uma carreira independente, a necessidadedeinfraestruturadeapoio, para alémdo Substack, será cada vez mais urgente. Organizar trabalhado- res, o meio tradicional de tornar um setormaisequânime,terádeseradap- tado às novas condições, sobretudo à medida que mais setores adotem o modelo do trabalhador autônomo. Fica mais difícil cobrar responsabili- dades quando a empresa para a qual setrabalhanãoreconhecequeatuano setor. Istoposto, Pecke símiles conti- nuamsendotrabalhadores, aindaque não tenhamchefe. Emsetembropassado, oDiscourse Blog, newsletter de política e cultura de esquerda tocada por umgrupo de jornalistasquetrabalhavamemumsite jáextinto, oSplinter (tambémescrevi ali), decidiutrocaroSubstackporum concorrente,oLede.Foiaterceiravez em seis meses que o Discourse, que começou no WordPress, mudava de plataforma, talvez um sinal da difi- culdade de criar projetos ambiciosos de forma independente, mesmo em equipe. Ao anunciar a troca, os auto- res da newsletter disseram que, no Substack, sua capacidade de crescer era limitada. Um deles explicou que era difícil atrair leitores só pormeca- nismosdebuscanainternetequeque- riampodermonitorardadosdeaudi- ência.Emsuma,queriam,tantoquanto possível, conduzir o próprio destino. OpessoaldoSubstacknãoestápre- ocupadocomaperda,pelomenospor enquanto.Emúltimainstância,vãoser julgadosnãoporsuaproduçãocriativa, mas por quanto retorno dão a quem investiu na empresa. A plataforma é nova,masasmétricasnão; considera- çõesfinanceirassuperamtudoomais. Quando indaguei Best e McKenzie sobre seus planos pós-pandemia, os dois responderam que não preveem qualquer mudança nos fundamen- tos. “Não criamos o Substack para ter sucesso só em tempos de catás- trofe”, dizMcKenzie. Emsuacoluna, BenSmith, do NewYorkTimes , escre- veuqueoTwitter cogitaracomprar o Substack,levandoMcKenziearapida- mentetuitar:“Issonãovaiacontecer”. Os dois seguembuscandoautores. “Você tem um Substack?”, Best me perguntou a certa altura. “Sempre fechando, Chris”, disse McKenzie, com um sorrisinho. Sorri também e dei uma resposta evasiva. Como fre- elancer, parecia bastante provável que um dia eu criasse um Substack, oualgoparecido.Haviaoutrasaída? ■ clio chang é jornalista freelance radicada no Brooklyn, em Nova York. Escreve sobre política, cultura, mídia e outras áreas. Texto publicado na edição impressa da Columbia Journalism Review (winter 2020), disponível emwww.cjr.org ILUSTRAÇÃO: OLIVIA FIELDS/CJR
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