Revista de Jornalismo ESPM
32 JANEIRO | JUNHO 2021 por mary retta emsetembrode2018, tiffanyfergusonseajeitounacadeiradoquarto para gravar mais um vídeo. Vestia um suéter bicolor de gola alta e tinha o cabelo loiro repartido em duas tranças rápidas. A então universitária – hoje com25 anos e mais de 600mil inscritos no YouTube – normalmente usava o canal para “story times”, quando discorria longamente sobre algum episódio do dia a dia. Naquela ocasião, no entanto, foi logo avisando que o vídeo seria diferente. “Tenho uma observaçãozinha a fazer sobre o algo- ritmo do YouTube e o papel de criadores que explodem”, avisou. Isso dito, Ferguson fez uma análise de 13minutos sobre a fama na internet, o viés de algoritmos e a importância, para o sucesso de um influenciador, de que o público se identifique comela ou ele. Ferguson deu dados do Social Blade, uma ferramenta de estatísticas de redes sociais, e fez sua interpretação dos fatos. “Vai minha opinião sobre o algoritmo do YouTube emeninas de 17 anos com as quais ainda me identifico”, disse, completando: “Não sou tão velha assim”. Sucesso instantâneo, o vídeo (que hoje já tem mais de 400 mil views) levou Ferguson a mudar de rumo e a lançar a série Inter- net Analysis , na qual fala de política e cultura: feminismo “girlboss”, rea- lity shows, viralidade. Cada episódio é visto por mais de cemmil fãs. Ferguson é uma das muitas estrelas na ala de opinião do YouTube, tam- bémconhecidacomoLeftTube.Alguns criadores (assimsãochamados) falam sobre o que dá na telha. Outros canais são de nicho: “Ask aMortician” trata de morte, mortalidade, mercado funerário; D’AngeloWallace comenta tre- tas no próprio YouTube; “Ready to Glare” fala de políticas do Twitter, cul- Influenciadores de opinião Jovens americanos lucram com canais de notícias pagos, que tratam de tudo: de política a movimentos culturais tos e saúde mental. Nem todo vídeo nessa ala do YouTube trata do que é notícianomomento,mas sempre vai fazer uma análise política e cultural relevantedoassuntoemquestão.Pode serumadigressão sobrea “culturado cancelamento”, uma introdução ao marxismo ou ainda um diagnóstico dapolêmicacausadapelofilme Cuties (esse último, por exemplo, tevemais de dois milhões de views). Não surpreende que esses vídeos sejampopulares; amaioria dos ame- ricanos hoje prefere assistir a ler notícias. E, segundo um estudo recente do Pew Research Center, 26%dos adultos nos EstadosUnidos consomemnotícias pelo YouTube – sendo que amaioria desse grupo diz que a plataforma é ummeio impor- tante para se manter informada. Gente com muitos seguidores e tempo para se informar sobre um assunto está usando a oportuni- dade para desafiar o domínio de veí- culos de comunicação convencio- nais. É uma turma jovem: criadores de canais de opinião no YouTube, e seu público, em geral não têmmais de 30 anos. Ferguson normalmente passa cerca de uma semana se pre- parando antes de sentar para gravar; no material postado, a impressão é que tudo é acessível, feito semmuito esforço. “Não quero evitar a política, acho que meus vídeos trazem uma perspectiva esquerdista, mas não é minha intenção fazer comentário político em todo vídeo”, argumenta o produtor de conteúdo. “Como meu canal é mais acessível, gente que talvez não dê muita bola para o noticiário ou para política pode se
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1