Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 33 inspirar em meus vídeos para ir se informar mais sobre determinado assunto, pois uso uma linguagem e um estilo mais informais.” Umjornalista freelanceganha, em média, cercade 20centavos dedólar por palavra. Dependendoda quanti- dadedepublicidadeedeoutros fato- res, umvídeo de 25minutos noYou- Tube que consiga 150 mil visualiza- çõespode render aocriadorUS$580. Seovídeotiver trêsmilhõesdeviews, essa cifra pode subir para algo como US$ 6.800. Kimberly Foster, 31, criadora de um canal no YouTube chamado de For Harriet, contou que, com seu público crescendo, parou de escre- ver para meios como The Guardian e HuffPost , para concentrar sua car- reiranoLeftTube.“Tenhomuitomais liberdade, possousar coloquialismo. Quando faziamatérias, eume sentia ‘engessada’. Jáquandoestou falando para a câmera, sou mais ‘livre’: sei como vou abordar umassunto e que expressão facial vou usar ao dizer certas coisas. Sei que posso tratar de assuntos políticos comrigor, mas ainda assim ser acessível.” Os vídeos do canal incluem uma análise histórica de como o corpoda mulher escravizada contribuiu para a ginecologia moderna e discussões sobrecolorismoeaaboliçãodaprisão de uma perspectiva feminista negra. Foster tambémpostouumacríticada versãodeCatsparaocinema, de2019 (“Queroser justa.Querogarantirque todos levem a culpa que merecem”, disse na ocasião, em tom de brinca- deira). Sua análise é de um tipo que faltabastantenoYouTube; emjunho, colaboradoresnegrosmoveramuma ação por racismo, alegando que a empresa sistematicamente remove seus vídeos sem explicação (“Nos- sos sistemas automatizados não são feitos para identificar raça, etnia ou orientação sexual de criadores ou do público”, disse um porta-voz do YouTube à época; é fato, também, que algoritmos costumam ser racis- tas). Dada a opacidadedo sistema de monetização do YouTube, pode ser difícil para um criador dizer o que pensa, pois pode acabar não rece- bendonadaporummaterial.Oresul- tado, especialmente para youtubers negros, muitas vezes pode ser uma insegurança financeira. Mas Foster encontrou outras maneiras de financiar esse trabalho. “Nunca quis estar em uma situação na qual a plataforma social muda o algoritmo e me impede de ter uma renda”, explica ela. “Então, quando vi quesitesdemeioscomo TheAtlan- tic e New York Times começaram a apostar mais em assinaturas digi- tais, eu sabia que teria de começar a contar com meu público também.” Anos atrás, Foster criou uma conta no Patreon. “Sinceramente, mudou tudo para mim”, disse ela, que tem mais de 3.300 patronos que pagam entre US$ 2 e US$ 50 ao mês por vídeos e podcasts exclusivos. É uma renda estável. Outros criadores fize- ramomesmo, com resultados ainda maisimpressionantes:o ContraPoints , que é de esquerda e tem uma pauta política e de LGBTQ, temmais de 12 mil apoiadores no Patreon, que dão entreUS$2eUS$20aomês. “Agora, já não ligo se o YouTube desmone- tizar meus vídeos”, afirma Foster. “Posso fazer o conteúdo que quiser, semme censurar.” ILUSTRAÇÃO: CJR
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