Revista de Jornalismo ESPM

40 JANEIRO | JUNHO 2021 por ruth margalit em uma quinta-feira gelada de março de 2020, a repórter de educa- ção Liz Bowie estava em sua mesa na redação do jornal americano Balti- more Sun quando começou a circular um e-mail instruindo todos a levar o notebook para casa no fim de semana. “Agora, vai ser tudo por Slack”, avisou um editor. Quem não sabia usar o programa receberia uma intro- duçãozinha de uma hora. O coronavírus estava paralisando boa parte dos Estados Unidos e o Baltimore Sun , que pertence à Tribune Publishing, anunciou que a sede permaneceria fechada até o fim do ano, talvez até mais. O jornal tinha trocado havia pouco a zona central de Baltimore por Port Covington, umnovo projeto imobiliário no sul da cidade –mudança que o pessoal detestara. A velha sede era simbólica: fora o lar do jorna- lista H.L. Mencken, ficava a minutos da vibrante zona comercial e dos tribunais de Baltimore e até do quinto andar do prédio, onde funcio- nava a redação, dava para sentir as rotativas em ação lá embaixo. Agora, por causa da Covid-19, os jornalistas do Sun tinham de puxar o carro e se virar sozinhos. O pessoal que ganhava menos de US$ 67 mil ao ano foi colocado em licença não remunerada por três a seis semanas. Quem ganhava mais do que isso teve de aceitar uma redução permanente no salário de 2% a 3% (o salário-base de executivos caiu 10%). Essa foi a última de uma série de medidas de corte de custos; no ano anterior, o fundo de hedge Alden Glo- bal Capital (conhecido como o “Ceifador dos jornais americanos”) tinha Dequalquer lugar Quais os prós e os contras da extinção das redações na era do jornalismo “pós-industrial”? virado omaior acionista da Tribune e deflagrado uma campanha espe- cialmente implacável de aperto de cintos. Pouco antes da pandemia, 11 profissionais do Baltimore Sun Media Group tinham aderido a um esquema de aposentadoria voluntá- ria. Enão era só eles: em todo o país, o coronavírus estava agudizando o esvaziamentoqueo jornalismovinha vivendo na última década, comcor- tesdepessoal e fechamentode sucur- sais em meio à queda nas vendas e na receita publicitária. O último capítulo, catalisado pelas medidas de isolamento, era o fechamento de redações. Na Reuters, mais de 2,5 mil pes- soas encarregadas de cobrir o que estáacontecendonomomento foram avisadas com pouquíssima antece- dência de que o trabalho dali em diante seria remoto; no fimdemarço de 2020, 93% da equipe, espalhada por 200 localidades, estava tra- balhando fora das instalações da empresa. “Era incrível a quanti- dade de coisas que a gente achava que tinha de fazer na empresa e sim- plesmente não precisava”, analisa StephenAdler, editor-chefe da Reu- ters. Em julho, quando aMcClatchy – um grupo de comunicações que- brado com30 jornais em 14 estados americanos – foi vendida ao fundo de hedge Chatham Asset Manage- ment, sete contratos de aluguel de sedes do grupo foram rescindidos. Veículos tradicionais como Miami Herald e Charlotte Observer seriam – sabe-se lá até quando – jornais sem redação. “A receita caiu e o tempo que vai levar para a recupe- ração é incerto”, afirmou Sherry

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1