Revista de Jornalismo ESPM

42 JANEIRO | JUNHO 2021 lembra o quanto tinha aprendido na redação ao ouvir jornalistas tarim- bados entrevistando autoridades. “O que acontece se acabamos todos de sair da faculdade e estamos nonosso quarto, sentados sozinhos à nossa mesinha?”, indaga. “Não sei o que serádo jornal seperdermos a capaci- dade de seguir cobrando essas auto- ridades damesmamaneira. Não sei o que será da comunidade.” Bowie, do Baltimore Sun , come- çou a se adaptar ao trabalho em casa. Só era viável, segundo ela, por causa da forte relação que tinha cul- tivado comeditores ao longo de três décadas no jornal. “Você consegue ‘ler’ a pessoa por canais do Slack e e-mail de um jeito que seria muito, muito difícil se eu fosse uma repór- ter nova, recém-chegada à redação”, disse. No começo de 2020, a equipe do Sun tinha recebido um Pulitzer pela investigação de uma série de acusações de corrupção e fraude contra Catherine Pugh, a ex-pre- feita. Bowie acha que esse trabalho teria sido impossível no esquema remoto. “Houve tantos momentos durante aqueles meses em que a discussão na redação resultou em reportagens melhores, pois estáva- mos o tempo todo trocando ideias, fazendo perguntas”, disse. “Tenho certeza de que nossa cobertura não teria sido tão boa se não tivéssemos estado juntos lá naquela sala.” A redação caóticamas glamorosa do filme Todos os Homens do Presi- dente , com fileiras e mais fileiras de escrivaninhas banhadas por luzes fluorescentes, em meio ao barulho constantede telefones tocando, gente circulando e máquinas de escre- ver a toda, foi uma fiel representa- ção do Washington Post por volta de 1976; quando visitou o set de filma- gens, Ben Bradlee, o editor-chefe à época, teria dito, estupefato: “Meu Deus, estounaminha própria sala!”. Novos tempos A redação de hoje, no entanto, está longe de soar ou parecer como a de então. O e-mail e o Slack substituí- ramo telefone e o vozerio; a redação hoje “é silenciosa como uma segu- radora”, disse um editor ao Ame- rican Press Institute. O jornalismo deixou de ser umofício “industrial” e virou um trabalho “pós-indus- trial”, disse Nikki Usher, profes- sora de mídia da University of Illi- nois. Sedes foram transferidas e reconfiguradas. Muitas adotaram um certo “hub”: uma área central, normalmente reservada para o pes- soal que cobre fatos quentes – e em torno da qual eram dispostos cír- culos concêntricos, para “facilitar a disseminação de informações do centro para a periferia”. Hoje, de novo, as redações estão à beira de uma reformulação; as que voltarem a funcionar podem espe- rar uma presença física drastica- mente reduzida. Em certas empre- sas de comunicação pequenas salas de reunião conhecidas por huddle rooms , onde repórteres e editores congregam, estão sendo transfor- madas emescritórios permanentes. Pode ser o começo do fimdo espaço semdivisórias. Tambémveremos o uso da automação, de acordo com o National Press Club Journalism Institute: “Coisas como ativação por voz, ferramentas hands-free [mãos-livres], portas automáticas, WARNER BROS./COURTESY EVERETT COLLECTION / FOTOARENA As grandes redações da década de 1970, como a retratada no filme Todos os Homens do Presidente , foram sendo reduzidas...

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