Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 45 teres e editores, no entanto, esta- ria espalhada pelo globo: em Ber- lim, Hong Kong, Bangalore e outras localidades. Reuniões editoriais começaram a ser feitas três vezes por semana, por Zoom. Repórteres e editores trabalhavam em textos no Google Docs; o software Trello era usado para administrar repor- tagens e pautas. Segundo Kaphle, o processo é simplificado e eficiente – e provavelmente será mantido depois da pandemia. Em junho, o site criou um programa de bolsas para jornalistas: seis profissionais receberam nove meses de orien- tação intensiva para mandar con- teúdo de seus respectivos países. Segundo Kaphle, oferecer o pro- grama a distância “deu a oportu- nidade de levarmos essa bolsa ao mundo todo, em vez de simples- mente ir buscar estudantes que estavam se formando em universi- dades nos Estados Unidos”. Como vírus confinando jornalis- tas a suas respectivas casas, veícu- los de comunicação foramobrigados a refletir sobre limites geográficos. ParaKaphle, a ideia de uma redação descentralizada extrapola o aspecto da conveniência ou da economia de dinheiro e envolve a própriamissão da revista: “Ter uma redação global é importante para garantir que nos- sas histórias sejamcontadas do jeito certo”, explica. “Isso significa não só quais países estamos cobrindo, mas quemestá cobrindo esses países (...). Quemuneospontos, detectapadrões e explica por que aquela história é importante, não só para o leitor nos Estados Unidos, mas também por que é importante para as pessoas que vivem lá.” A questão da repre- sentação – que histórias são conta- das, como e para quem– sempre foi crucial para o jornalismo, ainda que pouco debatida; a súbita mudança de perspectiva trazida pelo trabalho remotodeixou claro como a redação em si, apesar de tudo o que tem de social e colaborativo, pode ser um lugar de exclusão. “Uma das pri- meiras coisas que descobrimos foi que nossa reunião editorial diária melhorou drasticamente com todo mundo participando de casa, e não na empresa”, conta Adler, da Reu- ters. Embora esteja espalhada por vários continentes, a equipe de lide- rança da Reuters se concentra basi- camente em Nova York e Londres. “Daí que, semque a gente realmente percebesse, tínhamos um processo de dois níveis no qual o pessoal na sala trocava fofocas, travava con- versas paralelas, ria, comia junto, enquanto os demais – sobretudo na Ásia ou em alguma sucursal – se sentiam excluídos.” Sem limites Nos Estados Unidos, minorias raciais e étnicas representam menos de 17% do pessoal de meios de comunicação impressos e digi- tais – embora somem cerca de 40% da população, segundo o Censo americano. Um estudo do Pew Research Center revelou que 22% dos profissionais de redações ame- ricanas mora em Nova York, Los Angeles ou na capital, Washington – centros urbanos que calham de ser três das cidades mais caras para viver no país. Essas cifras apontam para uma força de trabalho que não é representativa de como a maio- Durante transmissão ao vivo, apresentador da BBC tem sala invadida por filhos e jornalista espanhol é flagrado com a amante, em 2020 REPRODUÇÃO/YOUTUBE REPRODUÇÃO/YOUTUBE
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