Revista de Jornalismo ESPM
46 JANEIRO | JUNHO 2021 ria dos americanos vive. A distri- buição de redações também pro- duz um certo “viés de localização” entre empregadores: a tendência a contratar quemvive nas proximida- des da empresa, em detrimento da diversificação dos quadros. Doris Truong, diretora de treinamento e diversidade do Poynter Institute, acredita que a migração rápida e geral do jornalismo para o traba- lho remoto vai facilitar a contrata- ção de gente de origens distintas. “Agora que vimos, durante a pan- demia, que as pessoas podem tra- balhar bem de muitos lugares dis- tintos, seria a oportunidade per- feita para contratar gente que tal- vez não possa ou não queira se mudar de um determinado lugar, mas que ainda assim poderia pas- sar a conhecer sua comunidade”, afirma Truong. Se o trabalhador já não tiver de bater o ponto em um determinado lugar e puder traba- lhar com horários mais flexíveis – para permitir coisas como cui- dar de crianças ou de um idoso –, a redação do futuro poderia, sim, ser um lugar mais inclusivo. “Sob vários aspectos, isso vem equalizar as coisas”, acrescenta a diretora. Naturalmente, aorganizaçãoainda precisará garantir ao pessoal os recursos necessários. Um total de 55 milhões de americanos não tem acesso a banda larga, segundo a Brookings Institution; na questãoda tecnologia, a população indígena do país é particularmente desprovida. Há pouco, quando Truong fez uma oficina virtual de liderança para jor- nalistas, uma participante do inte- rior doMississippi teve de se deslo- car até outro estado, a Carolina do Sul, porque onde morava não havia conexão boa de internet. Tambémvai ser preciso compen- sar tudo o mais que se perde sem a presença física na redação: o elogio espontâneo, as palavras de incen- tivo, a transparência de passar por uma sala de reunião e descobrir que você não foi chamado para uma reunião da qual devia, sim, partici- par. Assim como jornais erraram no passado ao achar que o digital significava simplesmente subir o material do impresso no site, um relatório da International News MediaAssociation revela que o risco agora é que dirigentes de veículos de imprensa achem que “o jornalismo remotopodedar certocoma simples mudança da localização damesa de trabalho”. Afinal, saúdemental é tão fundamental quanto wi-fi. Matassa Flores, do SeattleTimes, tenta falar com a equipe regular- mente, inclusive para dar os para- bénspormatérias importantes. “Mas toma mais tempo, não é tão gratifi- cante e é simplesmente mais difícil estando em casa”, diz. “Todo dia, sinto o peso de não fazer issomuito bem.” A redação do jornal, como tantas outras, está fechada há mais de um ano. E, quando for reativada, algo terá mudado: “pods” abertos antes ocupados por times de qua- tro repórteres deverão ser substi- tuídos por baias separadas por divi- sórias de acrílico paramanter o dis- tanciamento social. Com o trânsito em Seattle e o alto custo de vida, que expulsaram muitos funcioná- rios da cidade,Matassa Flores prevê que muitos dos colegas vão optar por seguir trabalhando a distância. “Há todo um aspecto subterrâneo aqui, que tem a ver com colabora- ção e mentoria e o impacto psico- lógico de trabalhar isoladamente. São situações que estamos apenas começando a ver.” Uma das grandes dúvidas do trabalho remoto é saber como um jovem jornalista chegando ao mer- cado em tempos de coronavírus vai lidar como que restou das redações. Antes de mais nada, há o imenso desafio de achar trabalho em um setor com as finanças em franga- lhos. Digamos que a pessoa supere esse obstáculo; nesse caso, ela estará praticamente só. ParaAlexAndrejev, 24, repórter de esportes do Charlotte Observer , o fechamento da redação significou que já não havia vetera- nos da editoria com quem apren- der. Andrejev tinha começado no Assimcomo jornaiserraramaoacharqueodigital significavasimplesmente subiromaterial do impressonosite, oriscoagoraéacharqueo jornalismo remotopodedar certocomasimplesmudançadamesade trabalho
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