Revista de Jornalismo ESPM
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 47 jornal em janeiro de 2020; era seu primeiro emprego em tempo inte- gral no jornalismo e ela era nova na cidade. “É preciso se esforçar um pouco mais para ter aquela sensa- ção dementoria”, revela a repórter. Quando chegou ao jornal, Andrejev ficara animada ao ver quanta gente nova havia, todos jovens e a maio- ria mulheres. “Era algo promissor.” Agora, o contato com a turma está limitado basicamente a Zoom e Facebook. “Acho que dá paramelho- rar muito, para separar o trabalho da vida pessoal e tentar conversar com os colegas fora do horário de trabalho”, avalia. Na área de Andrejev, há uma ênfase local na cobertura da Nascar – que, ao contrário da maioria dos esportes, nunca parou de verdade, pela estranha virtude de sua rela- tiva falta de contato. Primeiro, vie- ramas corridas virtuais, comos pilo- tos competindo (às vezes descalços) de casa, com simuladores. A certa altura as corridas foramretomadas, mas com isolamento. Algumas eram transmitidas por streaming, outras eramsempúblico, mas abertas para a imprensa. Hoje, Andrejev já está acostumada a ter sua temperatura medida no portão de entrada para, então, ser conduzida até a área da imprensa, da qual não sai durante toda a corrida. Em vez de se aco- tovelar com os colegas para con- seguir falar com os pilotos ao fim da prova, Andrejev e os demais jornalistas coordenam entrevistas por Zoom com os assessores de imprensa da Nascar. É tudo conve- niente (e necessário), emborameio frustrante. Parte da emoção de ser uma repórter de esportes é brigar por furos, diz Andrejev. “Isso acaba com a competitividade.” Aimpossibilidadedetravarcontato empessoacomatletasdificultaavida deumaprincipiante comoAndrejev, queconsideraquase impossível culti- var fontes. “Ninguémmais quer ficar conversandoporZoom”, diz (emum desabafo que viralizou, umpiloto da Nascar,ClintBowyer, dissea jornalis- tasque“FalarporZooméumsaco!”). Mas a relativa faltadeacessoaespor- tistas tambémpermitiuqueAndrejev refletissemais a fundo sobre suapro- fissão. “Tevemuitocoisaem2020que foi alémda cobertura sobreoesporte em si.” A análise de jogos deu lugar amatérias sobre protestos de atletas contra abrutalidadedapolícia e exa- mes mais extensos sobre como será o esporte no futuro. Esses temas, a seu ver, são os que mais merecem seu tempo. Quando falamos, Andrejev pare- cia resignada à realidade do traba- lho remoto, o que na prática sig- nificava “muita digitação de luga- res aleatórios da minha casa”. Na opinião dela, é uma forma econô- mica de manter jornalistas locais trabalhando. Isso posto, é difícil. “É como se você estivesse fazendo tudo sozinha”, lamenta. “Defini- tivamente, é preciso mais disci- plina, e é fácil se sentir só.” A repór- ter acrescenta: “Desde que mudei para cá, muita gente me pergunta o que estou achando de Charlotte”. Volta e meia, ela não sabe ao certo como responder. “Gosto da minha casa”, diz, sarcástica, ressaltando que recentemente adquiriu uma nova mesa de trabalho! ■ ruth margalit é uma jornalista israelense. Seus textos já apareceram na The New Yorker, na New York Times Magazine e na New York Review of Books . Siga-a noTwitter: @ruthmargalit. Texto publicado na edição impressa da Columbia Journalism Review (winter 2020), disponível emwww.cjr.org SHUTTERSTOCK.COM
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