Revista de Jornalismo ESPM
52 JANEIRO | JUNHO 2021 “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou…” Em plena Segunda Guerra Mundial, eis que surge E agora, José? , o poema escrito por CarlosDrummonddeAndrade para retratar o sentimento de solidãoe a sensaçãode abandonodohomemdo interior perdidona cidade grandeemumtempomarcadopormedo,misériaedestruição.Muitasdécadas depois, seus versos podem ser usados para retratar o cenário atual do jorna- lismo, que trava uma batalha diária contra a falta de verba, amanipulação das informações, a censura velada e a enxurrada de fake news, que inunda todos os dias as mídias sociais em todo omundo. A pandemia do coronavírus agra- vou aindamais oquadrode saúde da categoria, que foi uma dasmais afetadas por cortes de até 50%no salário, redução da jornada de trabalho e demissões emmassa.Umapesquisa realizadaemmeadosde2020, pelaFederaçãoInter- nacional dos Jornalistas (FIJ), revelouquedois terços dos jornalistas, empre- gados e freelancers, sofreram cortes salariais, perda de emprego ou tiveram suas condições de trabalho pioradas durante os primeiros meses de pande- mia. E, assim, apoesiapolíticacriadaparaexpressar asdificuldadesdiáriasdo brasileirocomumpassoua retratar tambémasdúvidas eangústiasdosprofis- sionais da imprensa, que, diante do cenário atual, perguntam: E agora, José? Embusca de uma resposta capaz de apontar os caminhos que iremos per- correr rumo ao futuro da arte de propagar notícias, a Revista de Jornalismo da ESPMentrevistou professores e profissionais domeio jornalístico.Mui- tos enxergam no jornalismo independente a saída para monetizar a ativi- E agora, José? Enquanto a grande imprensa encolhe, o jornalismo independente ganha força no Brasil, com novas formas de financiar, produzir e divulgar projetos dade, antes feitas emredações enor- mes, como as da Editora Abril. Sob a batuta de Roberto Civita, o grupo encerrou2010produzindoconteúdo para 54 marcas, uma receita publi- citária de R$ 1 bilhão e a venda de 190milhões de exemplares de Veja , Exame , QuatroRodas , Claudia , Capri- cho , Arquitetura e Construção , Supe- rinteressante , Você S/A , Saúde , Boa Forma , Viagem &Turismo , Placar , Vip e tantos outros títulos famosos quepautavama vida econômica e até política da nação. Emmenos de uma década, este que foi umdosmaiores gruposde comunicaçãodopaís virou sinônimo de case de fracasso na era do jornalismo pós-industrial. Com a morte de Civita, em 2013, a dimi- nuição dos investimentos publicitá- rios, o encolhimento das redações e o aumento das dívidas ao longo da última década, o grupo foi vendendo ou encerrando seus títulos. Até que em2018, quando a dívida atingiuR$ 1,6 bilhão, o grupo foi vendido para o empresário Flávio Carvalho por R$ 100 mil e uma de suas publica- ções mais famosas, a revista Exame , foi adquirida pelo BTGPactual. Em janeiro deste ano foi a vez do parque gráfico da Editora Abril ser fechado. Cinco meses depois sua sede his- tórica, na Marginal Tietê, em São Paulo, acabou arrematada em lei- lão por R$ 118 milhões. A Abril figura entre as grandes empresasdemídiaqueestãopagando umpreço alto por não se adaptarem aos novos tempos. O mesmo ocorre comgrandesnomesdo jornalismo: no últimoano, RobertoCabrini não teve seu contrato renovado como SBT; o correspondente Luís Fernando Sil- veira Pinto e o apresentador Zeca Camargo foram demitidos da Rede por anna gabriela araujo ENQUANTO ISSO NO BRASIL...
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