REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 9 nologias disponíveis, os veículos já não estão presos ao seu vertical de origem (de produção e distribuição deconteúdo), é importanteconhecer a jornada e compreender as necessidades e desejos do consumidor em cadamomento, procurando garantir a relevânciadoconteúdoeaconveniência do acesso– esses dois aspectos definemo valor para o consumidor. Relevância e conveniência são fundamentos da nova comunicação. Embora isso pareça obvio, podemos avaliar, por nossa própria experiência, que grandeparteda comunicaçãoquerecebemosnãoéoportuna, sendo percebida como um aborrecimento. Somos impactados, ininterruptamente, por uma enorme quantidade de mensagens, e nossa atenção é seletiva. Tomando emprestado um conceito tradicional da telecomunicação, esse fluxo de informações pode ser considerado um “ruído”, que interferena transmissãodo conteúdoque eventualmente possa nos interessar, o nosso “sinal”, a informação relevante.Uma transmissãodequalidade acontece quando maximizamos a relação sinal/ruído, de forma a que o sinal possa ser claramente distinguido do ruído. A atenção e o engajamento do consumidor são definidos, portanto, pela relação entre o que é sinal e o que é ruído. Para pagar suas contas, a mídia precisa ter controle desse contexto. Verdade e reputação Umagrandequestãoéque, nomundo damídia, a verdade vemse tornando polarizada e a confiança relativa. Estamos deixando uma era na qual algumas poucas grandes marcas de mídia distribuíam as informações sobre as verdades do mundo, que aceitávamos passivamente, para um outro contexto em que os produtores de informação se multiplicam, as redes sociais repercutemos conteúdos e os consumidores cocriam durante o processo. O consumidor de conteúdo é o protagonista da relação coma fonte. Demanda verdade e transparência, a seu critério e juízo de valor. Essa situação promete se acentuar na presente década, antes de se atenuar, turbinada pela polarização política e pela fragmentação social promovida pela defesa de direitos e de regras protetivas para segmentos específicos da sociedade. A credibilidade dos grandes veículos é contestada enquanto os pequenos, segmentados por valores defendidos por comunidades dinâmicas (grupos de interesse), ganham influência, justamente por serem tendenciosos. A tentação para os grandes não é pequena. A imparcialidade, o fundamento jornalístico tão necessário à sociedade, não encontra espaço comfacilidade,masnãodeve ser abandonada. O futuro do jornalismo Falar da importância do jornalismo na era das fake news não seria falar do futuro. Mas devemos relembrar o que dissemos sobre a concepção grega da verdade. Tudo que é publicado e compartilhado existe e se opõe ao que não existe. Na era em que vivemos, vale mais o talento do bardo para cantar o mito do que o fato que cai no esquecimento. Há umaspecto tecnológico, relacionado à mídia, que deve ter um papel marcante nesta próxima década. O uso da inteligência artificial para a produção de conteúdo poderá trazermaior agilidade e precisão para a informação – que são dois requisitos importantes para o resgate da confiabilidade. Mas esse mesmo recurso, que promete oferecer soluções inovadoras e interessantes, como apresentadores virtuais realistas e produção automática de matérias analíticas e experiências de realidade aumentada, também é capaz de criar o que vem sendo chamado de realidade alterada, uma construção bastante realista de conteúdos falsos “protagonizados” por personagens verdadeiros (“deepfake”). Migraremos da notícia falsa para o fato falso. Searelevânciadamídiajáéevidenciadanoatual contextodacomunicação, seu papel numa sociedade pós- -realidade torna-se imprescindível. “A realidade cotidiana é enfadonha e não dá audiência. Precisamos do excepcional e do inusitado para sentir-nos vivos, mesmo que sejam histórias, de realidade ou ficção”
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