20 JULHO | DEZEMBRO 2021 Empresas de tecnologia precisam recalibrar fundamentalmente omodo como categorizam, promoveme distribuemnotícias sob sua bandeira. Precisamreconhecer sua responsabilidade editorial também trouxeram dúvidas sobre o que vem em seguida: até onde redes sociais estariamdispostas achegarna classificaçãodeoutraspáginas–igualmentemanipuladoras,masmenosgritantes? Grygiel não gosta da ideia de titãs da tecnologia certificando jornalistas, mas acha que é preciso, sim, traçar limites e abordar sites que soltamdesinformaçãoe tenhamelocom financiadoresdecampanhaspolíticas ou think tanks ideológicos. “Nãoqueremos credenciamento para o jornalismo,maspodemosaplicartestespara determinaroquedefinitivamentenão é jornalismo”, salienta Grygiel. Peguemoscomoexemploocasodo Texas Scorecard, que se identificano Facebook como empresa de “mídia/ notícias”. Na noite da eleição para presidente dos Estados Unidos, em novembro de 2020, quando o noticiário estava dominado pelo lento processodecontagemdos votos, notícias falsascirculavamaumritmobemmais veloz.OTexasScorecardpublicouuma dasmais viralizadas –umtexto facilmente desmentido sobre algo muito “suspeito”: o entra e sai de grandes malas em um local de votação em Detroit (“O‘ladrãodecédulas’ erameu fotógrafo”, tuitou Ross Jones, repórter investigativo da WXYZ Detroit). A incorreçãonão foi produto de uma falha na apuração, mas de interesse político; oTexas Scorecardéumprojeto de Empower Texans, um grupo de lobistas de direita, e a categorização como empresa de “mídia/notícias” é feita por quem cria a página – no Facebook, quase qualquer um podeseconsiderarumpublisher.Com isso, o Texas Scorecard conseguiu se fazer passar por uma fonte legítima denotícias locaispara seus quase245 mil seguidores–quase 100mil amais doque o conceituadoTexasTribune. No Google, em comparação, o Texas Scorecardnão aparecia na aba “Notícias”.Diferentementedosistema doFacebook, que apostanaboa-fédo usuário, o mecanismo de busca do Googleusaumalgoritmoparadecidir quemseenquadranacategoria“fonte de notícias”. Éumprocesso automatizadopeloqual oGoogle indexa fontes de notícias segundo uma série de critérios, incluindo a frequência com que a fonte é lincada a outros pontos na internet; para avaliar o desempenhodoalgoritmo, umpainel de gente de carne e osso (“avaliadores de qualidade”) confere regularmente resultados de buscas no Google. Mas isso não significa que o Google solucionou o problema da desinformação: o rótulo “fonte de notícias” não reflete necessariamente veracidade; até o Epoch Times, o jornal pró-Trump que vive de conspiração e é ligado ao Falun Gong, satisfaz os critérios. E usuários do Google estão usando cada vez mais o recurso “Discover”, lançado em 2018, que recomenda links na tela inicial da pessoa e é tão personalizado que fica difícil determinar se é confiável na recomendação de jornalismo legítimo. Sites de “notícias” locais bancados comverbapolítica, comooTexasScorecard, ganharamdestaque na campanha presidencial americana em 2020 e representam um novo meio de usar uma fachada de jornalismo para exercer influência com o chamado “darkmoney” –verba vindade doadoresnãodeclaradosqueécanalizadapormeiode fundações. NoTow Center for Digital Journalism, onde trabalho, fizemos um vasto estudo desse fenômeno, examinando a luta de plataformas comesses falsos controladores do “jornalismo” em seus processos de rotulagem e advertência. Ano passado, o Facebook anunciou que impediria sites com “laços diretos e expressivos” comorganizações políticas de adotar o rótulo de jornalismo e usar a plataforma para promoção. Mas o Texas Scorecard, apesar do vínculo com a Empower Texans e de ser um flagrante disseminador de desinformação, segue na categoria “mídia/notícias”. Ao decidir onde e como aplicar rótulos, empresasde tecnologiaestão, deummodo importante, definindoo que é jornalismo. Como avalia Jillian York, autora do livro Silicon Values: TheFutureofFreeSpeechUnderSurveillanceCapitalism, essa preocupaçãonão édehoje: “A impressão é que houve um debate muito intenso em tornoda questão ‘Quemé jornalista?’ QUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .
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