Revista de Jornalismo ESPM - 28

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 21 SHUTTERSTOCK por volta de 2010, quando estávamos considerandocomopensar a respeito deorganizaçõescomoWikiLeaks”.Na época, recordou ela, “o Estado Islâmico estava emascensão, e plataformas de mídia social estavam começando a testar como fazer uma intervençãomais direta namoderação do conteúdo: desinformação combatida de forma aleatória e improvisada”. De lá para cá, a inarredável recusa de empresas de tecnologia de se envolver em questões editoriais nos rendeuuma definição prática de jornalismo – uma definição confusa e deletéria que representa um aceno tíbio rumo a um “equilíbrio”. Lá em 2018 o Facebook seguia praticando essaespéciede falsaequivalência tecnológica; foi quando aMother Jones soubequeumamudançanoalgoritmo teve umefeito negativo no seu site e positivo no Daily Wire, uma página de direita. A diferença entre os dois meios se resume àorientaçãopolítica – é de qualidade também: a Mother Jones éuma revistadeconteúdorigorosoeverificadocomumhistóricode jornalismo investigativo premiado; o Daily Wire é dominado pelas opiniões do Ben Shapiro, um comentarista de direita com todo um histórico de disseminação de inverdades. “Oproblemacomqualquer taxonomiaéqueatéaquelasquesãoúteisem geral erram”, observa EthanZuckerman, especialistaemmídiadaUniversityofMassachusettsemAmherst. Isso não significa que ele descarte a rotulagem. “Talvez sejaprecisoumanova linguagemparaalgunsdesses sitesde desinformação digitalmente nativos e extremamente populares”, aponta Zuckerman, ressaltandoqueasplataformasde tecnologiadeviamaproveitar o trabalho feito por organizações como NewsGuard e Trust Project, que estabelecem critérios para avaliar a qualidade de fontes de notícias. Duranteotempoemque foi diretor do Center for Civic Media no MIT, Zuckerman ajudou a criar oMediacloud, uma ferramenta de código aberto de avaliação do ecossistema midiático que penava para categorizar veículos que iamsurgindo, como o Gateway Pundit e o One America News Network. “Tentamos nativo digital versus nativo analógico, mas isso não ajudoumuito; daí tentamos esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direitaedireita, oque foimais útil”, conta (pesquisadores usaram o Mediacloud para demonstrar que sites de direita estavam se apresentandocomo jornalismopara criar um “loop de feedback de propaganda”). “Não acho que seja o caso de exigir que o jornalismo seja regulado – e muito menos credenciado por plataformas”, disse York, a autora de Sillicon Values. “Mas se indivíduos ou organizações foremse identificar como jornalistas, então é preciso ter um processo de responsabilização.” Naturalmente, quemvai fazer essa classificaçãosãoexecutivosde tecnologia, que tendemaesposar tantouma fé profunda na ideia da liberdade de expressão como extremo ceticismo em relação a jornalistas. Suas decisões emrelação à rotulagemde conteúdo importam, sim; o comprovado dano de não distinguir verdade de ficção, ou de não expor motivações e financiadores daqueles que deliberadamente visamenganar, requer que as plataformas sejammais abertas comprodutores denotícias. Aqui, no entanto, é preciso saber se as plataformas realmentequereremmudar. A não ser que transformem radicalmente seumodelo de receita, a possibilidadenãoparecedasmelhores. ■ emily bell é jornalista e diretora do Tow Center for Digital Journalism da Columbia Journalism School

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