34 JULHO | DEZEMBRO 2021 por joshua hunt tempos atrás, em uma tarde de julho, em xangai, desci por uma escada rolante no Museu de Ciências e Tecnologia da cidade e fui sair em um vasto mercado subterrâneo. Uma vez lá, peguei o iPhone e comecei a gravar um vídeo. Coloquei o celular no bolso da camisa, a lente voltada para fora para registrar o mundo que se descortinava à minha frente: um atrás do outro, longos corredores ultrailuminados cheios de lojas que vendiam de camisetas da NBA a iPads. Eram dezenas de lojas commilhares de produtos, tudo pirateado. Segundo estimativas, o mercado de falsificados na China e em Hong Kong movimenta US$ 400 bilhões ao ano. Estava acompanhando uma dupla de agentes da Pinkerton, a agência de detetives particulares mais antiga dos Estados Unidos, que ajudou a criar o campo de “proteção de marca”. AzimUribe, umamericano de 31 anos, estava ali emnome de clientes da Pinkerton para tentar desbaratar cadeias de suprimento ilícitas que abastecem o mercado negro de Xangai. Uribe me disse que contava com uma rede de informantes, emgeral gente do próprio crime, que vendia ao agente informações sobre operações rivais. Já eu estava contando comUribe. Ele e o chefe, um australiano chamado Angelo Krizmanic, tinham me convidado para acompanhar os dois naquele dia. “Vamos encontrar umcara chamado Kevin”, revelou Krizmanic quando entramos na galeria. “Ele acha que o Azim e eu somos só dois empresários estrangeiros, então cuidado para não falar nosso nome verdadeiro.” Assim como os próprios artigos fajutos, lojas que vendem esse tipo de coisa sempre têm algo de falso: um excesso de mercadoria, uma sinalética No limite A ética do jornalismo infiltrado: um dilema que todo profissional da imprensa enfrenta em algummomento da carreira com fontes esquisitas e pontuação bizarra. Já a do Kevin parecia uma loja legítima, com paredes revestidas de belos painéis de madeira e iluminação de bom gosto. Quando a dupla da Pinkerton e eu chegamos, fomos recebidos com um sorriso. As bolsas “Gucci” e “LouisVuitton” que ele vendia pareciam bem boas na minha opinião. Mas essa opinião não era unânime, uma vez que Krizmanic já chegou soltando um sonoro “Shit”, chamando tudo de porcaria. Ele disse a Kevin para deixar de lado toda aquela enrolação emostrar logo o filé da casa. Descobri que aquilo era o normal quando se comprava em galerias de piratas, que deixamamercadoriamais vagabunda à vista para vender à turistada. Era, também, uma artimanha para chegar ao depósito secreto de Kevin – o que, com poucos dias de investigação, poderia muito bem levar a uma rede de galpões e fábricas clandestinas. Em vez de morder a isca, Kevin surpreendeu todos ao revelar uma série de itens melhores ali à mão: com um clique em um botão e um leve empurrão, parte da parede se abriu para revelar uma sala oculta cheia de mais bolsas falsificadas. Entramos, os quatro. Quando a porta fechou, com todos lá dentro, Kevin acionou uma travamagnética. Chequei meu telefone, vi que não havia sinal e percebi que só sairíamos dali quando ele, Kevin, quisesse. O Uribe ficou olhando tudo, tentando ver se descobria algo. O Krizmanic pediu para ver uma ou outra bolsa em outra cor ou tamanho. O Kevin mencionou, por cima, que subornava um policial: “Pago todo mês, então é tranquilo”. Nervoso, eu tentava puxar papo. Já com certa claustrofobia, ponQUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .
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