Revista de Jornalismo ESPM - 28

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 35 derei minha situação. Embora os agentes de Pinkerton estivessem usando uma identidade falsa, as normas da minha profissão exigiamque eu usasse meu nome real. Tinha aceitado ficar na moita – fazer de conta que era só mais um deles –, mas já avisara que, se colocado contra a parede pelo Kevin, diria a verdade sobre o que estava fazendo ali. Se ele realmente tivesse molhado a mão da polícia, ser desmascarado poderia significar, para mim, a deportação ou outros problemas com a lei; podiamme pedir alguma propina. Meu celular continuava filmando – e eu rezando para o Kevin não perceber. Eradifícil saber seoUribeeoKrizmanic iriamrespeitarnossoacordose ocorresse algo inesperado–ou, aliás, se eumesmo iria. Numahora dessas, quando de um lado da balança está a diligência profissional e, do outro, a segurança pessoal, é fácil questionar seu juízo e se suas normas éticas são realmente a visão de consenso. Tinha terminado o curso de jornalismo dois anos antes e, na esteira, conseguidoumtrabalho fora dopaís na Reuters, ondemoderação e rigor são codificados como “princípios de confiança”. Com as redações tradicionais desaparecendo, meus colegas de curso tinham seguido caminhos divergentes:muitos tinhamido trabalhar em coisas novas como a Vice, onde provocação e transgressão erama norma. Outros entraram nouniversodos podcasts, onde até o NewYorkTimes estava tendodificuldade paramanter padrões editoriais sólidos. Alguns acharam um lugar em equipes de produção de documentários feitos para Netflix, Hulu e HBO, onde é imenso o apetite por histórias de crimes da vida real e cuja ética de apuração de fatos é, em geral, questionável. Umpunhado foi trabalhar emprogramas comooThe Daily Show e derivados (Samantha Bee, JohnOliver,Wyatt Cenac), que tornaramo trabalho com fake news uma carreira viável para jornalistas de verdade. O sucesso mais recente de um gênero que não chega a ser exatamente documental, o HowTo with JohnWilson – umamistura de cinema vérité com relato pessoal – se dedica a explorações inusitadas conhecidíssimas de qualquer estudante de jornalismo sem acesso a ILUSTRAÇÕES: TIM MCDONAGH Este sou eu, Joshua Hunt, em um mercado clandestino no centro de Xangai

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