REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 39 lham para ditadores do que com os meios sub-reptíciosusadosparachegar a essa informação. Brooke Kroeger, professora de jornalismo daNewYorkUniversity e autora de Undercover Reporting: The Truth About Deception (2012), há anos defende que é preciso “restituir honra e legitimidade às técnicas desconcertantes” dessa prática. Kroeger apoia métodos clandestinos basicamente por serem eficazes. Na mesma época em que Silverstein estava investigando lobistas, o Washington Post publicou um especial expondo as péssimas condições no hospital de veteranos de guerra Walter Reed Army Medical Center: DanaPriest eAnneHull passaram mais de quatro meses nesse trabalho de reportagem, sem autorização oficial; simplesmente entravam no hospital sem se identificar como jornalistas e pediamàs fontes que não denunciassem o que estavamfazendo. “Ou seja, fora vestir um jaleco branco, elas fizeram de tudo para ocultar quemerame oque estavamfazendo”, asseguraKroeger. “E não vi problema nisso.” O especial surtiu efeito: “Um dia depois de a série começar, já havia trabalhadores no lugar reformando ambulatórios cheios demofoe infestadas de ratos”, escreveuKroeger em umensaio (“Why Surreptitiousness Works”). “Em questão de semanas, o diretor do hospital, o secretário do Exército e o cirurgião-geral doExército tinhamperdido o cargo. OCongresso fez audiências emcampo, no própriohospital, paracolherodepoimento de fontes citadas pelas repórteres. Três comissões de inquérito especiais (os “blue-ribbon panels”) foraminvestigar como soldados feridos emcombate, que tinhamservido o país com tanta bravura, podiam estar sendo tratados tão mal sob a tutela do próprioExército. O louvor foi universal.” Isso incluiu umPulitzer por serviço público em 2008. Apesardisso,Kroeger acreditaque o jornalismode infiltraçãoprecisa ter certos limites: “A regra geral é que, se confrontado, você abre o jogo”, explica ela, dizendo que seria uma pena se jornalistas se limitassem a dar apenas informações às quais têm acessooficial. E, namedidaemqueas normas de conduta foram concebidas para operar dentrode ummarco de “relações com a imprensa” – um mundo de indivíduos e instituições dominadopelohomembranco, heterossexual –, o jornalismo resultante eleva e reproduz essa perspectiva comonorma. Naturalmente, osmais habilitados a se mimetizar no seio de instituições americanas tendem a ser gente como Conover, Silverstein, Priest e Hull – brancos, todos. Jornalistas de grupos marginalizados, ao contrário, conhecem bem o risco de ser confrontados. Ao seguir normas convencionais, a imprensa tende apassar batidopor muita coisa (nativo-americano que sou, atéeutendoaassumiraperspectiva do branco ao ler jornais e revistas americanos). Deixar de lado essa visãopadrãopode significar ser rotuladode“ativista”,masagircomaética em mente não vai salvar um repórter dessa percepção. Em geral, cabe a organizações jornalísticas pequenas, que estão começando, questionar os modos aceitos de prática e enquadramento. “Para nós, a tese de que a identidade de alguémdeixaria essapessoapróxima demais do assunto p a r a c o b r i - l o parece fundamentalmente absurda”, disse Ashton Lattimore, editor-chefe daPrism, umaONG de jornalismo liderada por BIPOCs (acrônimoeminglês de black, indigenous ILUSTRAÇÕES: TIM MCDONAGH
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