Revista de Jornalismo ESPM - 28

54 JULHO | DEZEMBRO 2021 disse. “Ou em algum lugar.”). Além domais, quemdisse que não queremos ser iludidos? O típico consumidor do noticiário na TV quer ouvir narrativas que confirmemaquilo em que já crê; a pessoa que acredita em umdeepfake de cunho político está, de certomodo, comprando uma realidade que ela deseja. Qual será apróximadeFredSassy, não sei dizer. No fimde fevereiro, no entanto, a internet trouxe algo quase tão impressionante quanto: uma conta no TikTok chamada “Deep TomCruise” postouoque talvez seja o deepfake de famososmais realista até agora: Tom Cruise fazendo um passedemágica, TomCruise jogando golfe, TomCruise contando piada. A meu ver, era umdeepfake “puppet”, tipo Sassy Justice: alguémcontratou um ator para encarnar Tom Cruise e depois fundiu a cara de Cruise às imagens. O lado tecnológico era perfeito, a personificação era perfeita. Os vídeos viralizaram imediatamente — e geraram um sem-fim de títulos caça-cliques. Um jornalista do BuzzFeed jogou os deepfakes no sistema de testes do Sensity, que não detectou nenhum “faceswap”. Na tentativa de localizar o criador dos vídeos, mandei uma mensagem a Shales e a Chris Ume, um belga de 31 anos que também é deepfaker da DeepVoodoo. Shales não respondeu. Ume, sim: “Não estou dando entrevistas sobre isso”. É claro que era ele – e eu devia ter imaginado. Semanas antes,Umetinhapostadoumdeepfake quase idêntico de Tom Cruise em sua página doYouTube, trabalhando comum ator chamadoMiles Fisher, que já parece Cruise nos tempos de JerryMaguire.Umeparecia surpreso por não ter sido procurado por mais jornalistas sobre a origem da conta Deep Tom Cruise. “A maioria deles não entende nada, mas segue escrevendo sobreoassunto, simplesmente copiando de outro jornal”, disse ele em uma mensagem que me enviou. “E, claro, ‘éo fimdomundo’, emmaiúsculas.” A certa altura, o nome de Ume veio à tona e o verdadeiro Tom Cruise criou uma conta no TikTok. A vida imita a arte A ficção científica extravasa nosso medodenãosaberdistinguirohumano real do sintético. Embora o exemplo mais famoso sejam os replicantes de BladeRunner,hámuitosoutros–desde orobôMariaemMetrópolis àsduplicatasdeVampirosdeAlmas (Invasion of theBodySnatchers) easmulheres- -robôsdeTheStepfordWives.Nofilme OSobrevivente(TheRunningMan),de 1987eestreladoporArnoldSchwarzenegger, ogovernodosEstadosUnidos fundeimagensdefugitivosprocurados comasdeatores, paradara impressão dequeosbandidos foramcapturados. Hoje, a arte apenas imita a vida. Deepfakes são umaspecto sinistro de um drama recente da BBC, The Capture, e de Lupin, umhit da Netflix. Na vida real, no entanto, o complexo industrial de deepfakes tem um forte traço utópico. Lisha Li, a CEOdeumastartupdeSanFrancisco chamadaRosebudAI, temuma visão quenão fogemuitoàdeDonnaHaraway. Embora a Rosebud tenha feito o deepfake do deputadoMatt Gaetz, seu forte são fotos genéricas geradas por IA (como em um banco de imagens, para representar um perfil demográficoespecífico) eumaplicativo, oTokkingHeads, capaz de criar uma representação emvídeo e áudio Imagine aparecer no Zoom na forma de um avatar deepfake. Isso abre uma enorme oportunidade para gente que não quer estar na esfera pública usando sua própria identidade Deep Tom Cruise: a conta fake do ídolo ARQUIVO CJR Texto publicado na edição impressa da Columbia Journalism Review (spring 2021), disponível emwww.cjr.org QUEM | QUANDO | COMO | ONDE | POR QUÊ E O QUE ESTÁ POR VIR. . .

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