REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 55 de alguém usando apenas uma foto da pessoa. A promessa aí, particularmente interessante na era do trabalho remoto, é separar a qualificação e a personalidade das pessoas de sua aparência física. Imagine aparecer no Zoom na forma de um avatar deepfake, disse Li: “O que isso faz é abrirumaenormeoportunidadepara muita gente que simplesmente não quer estar na esfera pública usando, digamos, sua própria identidade”. Já vimos tecnologia parecida ganhar força nas redes sociais: ano passado, a agência de talentos CAA passou a representar Lil Miquela, uma influenciadora do Instagram commilhõesde fãs–equenãoéuma pessoade carneeosso. Quandoa sardentinhaMiquelaapareceu, comuma personacomputer-generatedinfluencer (CGI) sedutora, o Instagram já era omarco zeropara quembuscava alterar aprópria imagemparaatingir umpadrãodebelezauniforme, sintético. ALilMiquela levouomeioa seu destino lógico. ComoobservouEmilia Petrarca em um fascinante “perfil” na revista NewYork, Lil Miquela partiu com uma aparência peculiar, mas, aos poucos, foi adotando os maneirismos robóticos de influenciadores de carne e osso. “O efeito é invertido”, escreveu Petrarca. “A Miquela parece mais real por imitar a linguagem corporal que torna modelos menos reais.” Ao mesmo tempo, o DNA sintético de Miquela dáà influenciadorauma formaciborguianadepersonalidadequepermite que escape completamente de rótulos. “Não sei se posso me identificar comoumamulherdecor”, postouela a certa altura. “Morena foi a escolha feita por uma empresa. ‘Mulher’ era uma opção na tela do computador.” Aformamaisassustadoradedistopia na inteligência artificial é aquela na qual amáquina ganhamenteprópria. Quando falei com Bill Posters, o artista dos deepfakes, ele sugeriu que já estávamos vivendo essa realidade. “A maioria das imagens hoje estásendocompartilhadapormáquinas, entre máquinas, sem controle ou intervenção humanos”, disse ele. Dados extraídos de nossas imagens são, por sua vez, aquilo que redes social vendem a anunciantes para ganhar dinheiro. Em termos gerais, Posters tem razão. Mas deepfakes dependem de um toque humano, à Pigmalião. Foram criados por nós para despertar alguma reação em outros humanos –uma reaçãonegativa, positiva, odiosa, febril, seja lá o que for. Por ora, estamosnocontrole. Simon V.Z. WooD é jornalista e já trabalhou para Bloomberg Businessweek, Vanity Fair e Wired Lil Miquela, a influenciadora que temmilhões de fãs no Instagrame book em uma agência de talentos, só não é de carne e osso! ARQUIVO CJR
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