Revista de Jornalismo ESPM - 28

62 JULHO | DEZEMBRO 2021 PARA LER E PARA VER LEÃO SERVA OEspíritoMilitar–Um antropólogonacaserna, CelsoCastro. Editora Zahar Passadospresentes, RodrigoPattoSáMotta. 336 páginas, Editora Zahar, 2021 Injustiçados, Lucas Ferraz. 238 páginas, Editora Cia. das Letras, 2021 ContraaRealidade, Natalia PasternakeCarlosOrsi Markun. EditoraPapirus7Mares Em 1987, quando o Brasil saía da ditaduramilitar, Celso Castro mergulhouna instituiçãoque faz a cabeça dos militares do país, a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Usando a antropologia como método, ele produziuumaobra clássicaqueajudou a explicar as três décadas em que os militares se comportaramcomonas democracias do Primeiro Mundo. Agoraqueumalunosaídodaquela escola de oficiais foi eleitopresidente daRepública emilitares de todas as patentes puseramasmangas de fora, envolvidos no governo ultradireitista de Jair Bolsonaro, o livroé relançado com um capítulo inédito. Para o autor, O Espírito Militar éconstituído, ao longoda formação na Academia, pela oposição comomundo civil, lá fora. Ali dentro reinam a disciplina e o respeito absoluto pela hierarquia; lá fora graçam a contestação, o embate e a corrupção. ■ Opassadodaditaduramilitarnão larga o presente brasileiro, vindo constantemente puxar o pé da democracia. Rodrigo Sá Motta acredita que o estudo da história pode revelar o fio que ficou desencapado desde o fim do regimemilitar: oBrasil nãoacertou as contas coma ditadura, a transição pacífica não permitiu que a sociedade civil enterrasse aquele período. Por isso, o pesadelo não acabou. Seu livro se propõe a fazer esse ajuste de contas por meiodeesclarecimentosquevão desdearevelaçãodaviolênciado golpe de Estado de 1964 até os bastidores do milagre econômico, queestabeleceuumadívidae adesigualdadesocial, “falindo”o Estadobrasileiroemultiplicando a corrupção, enquanto a censura calava a sociedade civil de denunciar os descalabros. A desinformação permitiu o surgimento de candidaturas como a de Bolsonaro, sonhando comum “Brasil grande” que nunca existiu. ■ Ajuste de contas Marcha soldado! O livro é uma reportagemsobre Execuções de militantes nos tribunais revolucionáriosdurantea ditadura, como diz seu subtítulo. Trata-se de uma espécie de batata quente no colo dos gruposdeesquerdaque tiveramenvolvimento com a luta armada. O livro revela a história de Márcio Leite de Toledo, Carlos Alberto Maciel Cardoso, Francisco Jacques de Alvarenga e Salatiel Teixeira Rolim, quatro militantes mortos por organizações armadaspor suspeitade colaboração com os órgãos de repressão. Todos ocorreramentre 1971 e 1973, quando as organizações ditas guerrilheiras estavamnaufragando. Emcomum, os quatro tinhamsido presos e torturados pela ditadura e, depois, fora do cárcere, acusados de colaboração. Ferrazmostra que eramtodos inocentes dessa acusação. E que nenhumverdadeiro delator durante aditadura foimortopelas organizações traídas. ■ Militantes traidores? Natalia Pasternak já estava combatendo negacionismo e visões não científicas impregnadas em políticas públicas de saúde por meio do seu Instituto Questão Ciência, quando a pandemia da Covid-19 chegou e colocou essa doutora em microbiologia (USP) no centro das atenções, comouma figuraquase onipresente nos programas jornalísticos e debates sobre as ações governamentais contra a epidemia. Neste ContraaRealidade, queela lançacomo jornalista Carlos Orsi, o combate é a todas as formas de negacionismo desdeaAntiguidade, comexemplos quevãodeGalileuGalilei (condenado pelo relato de descobertas empíricas)atéoatualnegacionismo das atrocidades cometidas pela Alemanha nazista durante o Holocausto (1941-45). Para Natalia, o negacionismo tempor missãoconfundiraopiniãopúblicae, portanto, nãodeveterespaço no debate público. ■ A negação da ciência DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO

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