REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 63 Oarquemefalta, Luiz Schwarcz. 200 páginas, Editora Cia das Letras, 2021 Nesse livro, ao mesmo tempo asfixiante, triste e edificante, o fundador da Cia. das Letras exploramemórias antigas e recentes para tentar entender a insônia do pai e a própria depressão. “Ainda é arriscado afirmar com certeza as causas’, diz no início do livro, mas logo se pode ver que há uma imensa dose de culpa nos dois: o húngaro André, por ter fugido do trem emque seguia para o campo de concentração nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, deixando para trás o pai, Láios; e Luiz por ter passado a vida sem conseguir ajudar a resolver aangústia do pai. Ele conta como foi preparadopara herdar a gráfica da família, mas decidiu seguir a carreira de editor, que o levou a construir a maior empresa brasileira do ramo, hoje um grupo de diversas marcas.■ Mal do século Sete visões da crise por oito craques da imprensa O livro TempestadePerfeita temuma numerologia curiosa. Seu subtítulo é Sete visões da crise do jornalismo profissional, mas o volume é escrito por oito autores. Um deles é organizador, o jornalista e editor Roberto Feith, que em sua apresentação da antologia de sete textos também dá pitacos na discussão do tema. Analisando a atual sinuca emque se encontramosmeios de comunicação e os veículos jornalísticos em quase todo o planeta, o livro concentra tanto visões “apocalípticas” quanto “integradas”, para usar a divisão proposta por Umberto Eco quando definiu a crítica da comunicação de massa nos anos de 1960. Em ordem alfabética, Caio Túlio Costa, Cristina Tardáguila, Luciana Barreto, Helena Celestino, Marina Amaral, Merval Pereira e Pedro Bial, além de Roberto Feith, são os autores dos ensaios que compõem o livro. Cada um aborda um aspecto específico da visível crise da indústria jornalística e da mídia de massa como um todo (há certa confusão entre as duas instâncias, como é comum em virtude do jornal ter sido o primeiro meio de comunicação de massas da história, a partir de meados do século 19). Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa, escreve sobre a ameaça representada pela profusão de notícias falsas que se tornou fenômeno típico da atual fase da política em diversos países. Aameaça das novasmídias para omodelo econômico dosmeios jornalísticos são o tema do ensaio de Caio Túlio Costa, bem-sucedido empreendedor de startup digital. Ele desenvolve seu texto com base em estudo realizado na Columbia University, em 2013 (publicado na Revista de Jornalismo ESPM, n. 9) e defende que as empresas tradicionais desistam das velhas plataformas e mergulhem no mundo digital. Luciana Barreto trata de outra ameaça ao jornalismo contemporâneo: a saga dos repórteres afrodescendentes que lutampor lugares nas empresas jornalísticas no país. “Quais são as consequências para o jornalismo brasileiro se fontes, olhares, professores do curso de comunicação, chefes e entorno partemde uma perspectiva “não diversa”? Emuma respostadireta, possogarantir: perdemos todos”. Já Marina Amaral, uma das três mulheres responsáveis pela criação da Agência Pública, destaca a necessidade da prática de um jornalismo investigativo independente e saúda o surgimento de novos projetos jornalísticos digitais que podem celebrar acordos de parceria com empresas jornalísticas tradicionais. Pedro Bial apresenta um diálogo entre três personagens anônimos que discutem a atual crise da imprensa por meio do zoom em uma madrugada de pandemia. Ospersonagens serevelamapar dos aspectos mais sofisticados da crise e das possíveis portas de saída. Por fim, Merval Pereira, comentarista político de O Globo, CBN e GloboNews, encerra o livro reafirmando os preceitos básicos da ética jornalística tão ameaçados atualmente, tanto pela conjuntura da mídia quanto pela polarização política e pelas ameaças à democracia (que são trigêmeos xifópagos). “Informar e formar, como define o filósofo alemão Jurgen Habermas, este é o caráter cada vez mais essencial do jornalismo neste momento de massificação de distribuição de notícias, falsas ou não.” ■ DIVULGAÇÃO leão serva é professor do curso de graduação em jornalismo da ESPMe diretor de jornalismo da TV Cultura-SP. É autor dos livros Jornalismo e Desinformação (Senac) e A Fórmula da Emoção na Fotografia de Guerra (Senac) finalista do Prêmio Jabuti 2021. TempestadePerfeita– SeteVisõesdaCrisedo JornalismoProfissional, RobertoFeith (org.). 368 páginas. EditoraHistóriaReal DIVULGAÇÃO
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