REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 5 atenção para a excepcionalidade. É um processo parecido com o que acontece na televisão digital, cujo sinal traz a informação das mudanças de pixel, quadro a quadro. Se o pixel era preto e vai continuar preto, oucomumavariaçãomuitopequena, isso não precisa ser informado. Essemecanismointernoé, decerta forma, reproduzido na nossa relação comomundoexterior.Dirigimosnossa atenção para o que foge do comume para oque é intenso.Melhor ainda se forcapazdedespertarfortesemoções. De todas as áreas do conhecimento, talvez a que melhor represente esse fenômeno é a história. Classificamos a trajetória da humanidade em fases, a partir de grandes mudanças. Namedicina, dedicamos nossa atenção para as doenças. Na física, para as mudanças de estado. Não é de admirar que o mundo damídia se aproprie desse conceito comtanta habilidade. Umjornal que reporte o que já sabíamos e que não mudou não terá leitores. A reprise deumprograma recebemenos atenção. A exceção fica para aquilo que é emocionalmente estimulante, que desejamosvererever, repetidamente, até que perca a capacidade de provocar alterações significativas em nosso estado de espírito. Os sites de notícias e os telejornais são um caso à parte. Precisam sermuito dinâmicos para capturar a atenção, conquistar emanter a audiência. E é aí que a coisa complica. A violência ocupa umespaço significativo na mídia informativa. No mundocontemporâneo, casosdeviolência, nasmais diversas formas, são fáceis de encontrar. O nível de violência capaz de sensibilizar o consumidor da informação varia em função do ambiente em que vive e de sua história de vida. Eu estava no Chile quando a imprensa reportou, pela primeira vez, o assalto a uma mulher que estava parada em um semáforo, dentro de seu carro. O acontecimento ocupou todos os noticiários com grande destaque, e a indignação coletiva foi digna de nota. Trabalhavano centrode SãoPaulonesta época, e no semáforo da avenida São Luiz, emfrente àBibliotecaMunicipal, isso ocorria praticamente todas as vezes em que o semáforo estava vermelho. Não era notícia. A variação das estatísticas sobre esse tipo de crime era notícia na época, duas ou três vezes por ano. Assassinatos também eramnotícia. Na era em que vivemos, vale mais o talento do bardo da Idade Média para cantar o mito do que o fato que cai no esquecimento SHUTTERSTOCK.COM
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