Revista de Jornalismo ESPM

16 JANEIRO | JUNHO 2022 por michael specter “ike, como você sabe disso?” Bob Johnson, chefe da sucursal da AP em Dallas, fez a pergunta a James “Ike” Altgens, um de seus fotógrafos, em 22 de novembro de 1963. Estavam dizendo que o presidente John F. Kennedy, que estava em visita à cidade, sofrera um atentado, mas a informação não fora confirmada. Johnson tinha começado a redigir uma nota, mas não passara do cabeçalho com local e data. Seus dedos estavam a postos, à espera de informação. Altgens tinha uma resposta: “Eu vi. Tinha sangue no rosto dele. A Sra. Kennedy gritou: ‘Ai, não!’”. O diálogo entre Altgens e Johnson foi reproduzido no texto “The Reporters’ Story”, publicadona ColumbiaJournalismReview no fimde 1964. Éuma compilaçãode relatos emprimeiramãode jornalistas que cobriramo assassinatodurante seudesenrolar – antes quequalquerumsoubesse aocertoque fora um assassinato. É, sob muitos aspectos, um retrato da época, a começar pela descrição do empurra-empurra entre repórteres para ter acesso a um radiofone e pela alusão a esses jornalistas como “homens que acompanhavam a comitiva presidencial em Dallas”. É verdade que também havia mulheres, incluindoMarianneMeans, daHearstHeadline Service, que passou aos colegas a informação de queKennedy tinha sido baleado e estava no ParklandHospital. “Quando a senhoritaMeans disse essas palavras – nunca soube quem lhe disse –, tive certeza absoluta de que era verdade”, contou TomKirkland, editor-executivodo DentonRecord-Chronicle. “Todomundo teve. Corremos para os ônibus da imprensa.” A réplica a “como você sabe?” é outra pergunta: em quem você confia? Como você sabe? Amy Davidson Sorkin discorre sobre momentos emque a confiança é posta à prova nomeio jornalístico Revisitar a cobertura de crises nas páginas daCJRé lembrar que a confiança é produto de uma negociação incessante entre a imprensa, o públicoe aqueles que estãonopoder. Emnovembrode 1963, assessores da Casa Branca subiram repórteres ao Air ForceOnepouco antes de a aeronavedecolar deDallas para testemunhar LyndonJohnson sendo empossado como presidente – um reconhecimento de que a legitimidade não podia ser dissociada da transparência. Na edição do inverno de 1968/69, Thomas Whiteside escreveu sobre os protestos e a brutalidade da polícia durante a ConvençãoNacional do PartidoDemocrata emChicago; uma evidência de que o então prefeito, RichardDaley, tinha adotado “uma política deliberada” de impedir a cobertura era a dificuldade de jornalistas de reservar vagas em estacionamentos privados (“em geral, os donos têm prazer em cooperar com emissoras de televisão”). Tinha coisa ali, não era normal. Mesmo assim, quando a polícia partiu para cima de manifestantes – e de jornalistas – no Lincoln Park de Chicago, as câmeras estavam registrando. Quando James Strickland, um cinegrafista negro, diz à polícia que é da emissoraNBC, a resposta, conforme relatada pela CJR, é “Seu negro filho da puta, vamos matar você antes que a noite acabe” (atingido no rosto, ele sobreviveu). Mas umprodutor diz a Whiteside que “toda vez que acendemos as luzes, reduzimos a violência à nossa frente”. Muitos acontecimentos dos últimos anos –especialmente a resposta

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