Revista de Jornalismo ESPM

20 JANEIRO | JUNHO 2022 por paul mcleary contexto: desde o início daGuerra do Iraque, emmarço de 2003, até a publicação deste artigo, na edição da revista CJR de março/abril de 2006, mais de dois terços dos jornalistas mortos em solo iraquiano eram naturais do país. dias antes de eu conhecer salih no iraque, ele passara a ser um foragido. Atuando como stringer (colaborador) para o The Washington Post em Tikrit, ele tinha trabalhado na apuração de uma reportagempublicada em13 de janeirode 2006, identificando autoridades locais deTikriti que, segundoo texto, tinhamsaqueadoumcomplexodepalácioserguidoporSaddamHussein. Oepisódio, assimcomotantacoisaquedeuerradonoIraque, teminíciocom oque, emtese, devia ter sidoumsinal deprogresso. Emnovembrode2005, as forças americanas emTikrit armaram um verdadeiro circo para devolver os paláciosaos iraquianos. Poucodepois, aose inteirardos saques, Salihfoi cobrir o caso – umdos vários stringers do Post destacados para a tarefa. Tendo conferido in loco adestruição, fezumrelato ao jornal, quepublicouumtexto atribuindo a culpa a forças iraquianas e a JassamJabara, chefe da força de segurança local. Jabara, que já não gostava de Salih por uma reportagemanterior, odiou. E, segundo fontes de Salih, colocou sua cabeça a prêmio por US$ 50 mil. Salih fugiu de Tikrit e até hoje não voltou. A situação de Salih, embora extrema, se repete na vida demuitos iraquianos que colaboram com veículos de imprensa estrangeiros nesse desafortunado país. Como Iraquemergulhando cada vezmais noqueparece ser umespasmo interminável deviolência,muitos jornalistasde fora foramobrigados abaixar a Fogo amigo Como os jornalistas locais cobriram a Guerra do Iraque para os veículos de comunicação do Ocidente bola,deixandoseusredutosprotegidos sóporcurtosperíodoseaindaassimsó comtradutor,motorista eumguarda- -costas a reboque. O resultado é que dependem cada vez mais de stringers iraquianos para apurar informações. Issonãoquerdizerqueosestrangeiros nãosaiam–saem,dentrodopossível–, mas que, dada a violenta realidade no Iraque,hámomentosemquesimplesmente não é viável para eles circular. Para stringers iraquianosquearriscama própria vida e emgeral têmde ocultar o que fazem de amigos e da própria família, sem sequer a glória de umcrédito emreconhecimento, a respostaàperguntadeporque fazem issoécomplicada.Emumpaísempobrecido por décadas de guerra, ditadura criminosa e sanções internacionais, odinheiroemgeral eraogrande atrativo, aomenosno início. Recrutados das fileiras de profissionais com ARQUIVO CJR/ AKRAM SALEH/GETTY IMAGES

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTY1