Revista de Jornalismo ESPM

28 JANEIRO | JUNHO 2022 até classificando o site investigativo Proekt como“indesejável”, criminalizandonapráticasuaatividade.Desde oinícioda invasão, autoridadesrussas seguiramutilizandoessearsenal regulatório, além de ordens mais específicas sobre a cobertura de guerra. No sábado, as autoridades aplicaram o rótulo de “indesejável” aoOrganized CrimeandCorruptionReportingProject (OCCRP) e a uma entidade russa parceira, a iStories, embora nenhum dosveículosatualmenteoperedentro da Rússia. No mesmo dia, a RFE/RL dissequefechariasuasoperaçõesrussas, citando tanto a nova lei de Putin como a instauração, pelas autoridades fiscais russas, de umprocesso de falênciacontraoveículodepoisdeseus diretores terem se recusado a acatar as normas impostas pela designação de agente estrangeiro e receber multas milionárias. Enquanto isso, o bloqueio continua, com a Rússia fechando vários sites de notícias, incluindo o Mediazona, que foi criado por membros do grupo punk dissidente Pussy Riot e cobre o sistema de justiça criminal. O Mediazona “era o último meio jornalístico independente do país que ainda cobria a guerra”, tuitou Kevin Rothrock, um editor do Meduza. “Fim”, encerrou. A constante erosão da liberdade de imprensa em certos países pode, às vezes, parecer algo abstratopara o consumidor de notícias nos Estados Unidos. O que vemos hoje na Rússia é o desfecho lógico dessa erosão, ou algopróximo a isso. Eas consequências disso são tudo menos abstratas, nãosóparamuitosdos intrépidos jornalistascujotrabalhoacabadesercriminalizado,mas tambémpara aqueles no país e no resto do mundo que dependemdelesparacontaraverdade emummomento perigoso. Veículos como Mediazona,Meduza eRFE/RL prometeramseguircobrindoaRússia e sua guerra, de longe se necessário, emostrarama seu público naRússia comocontornar bloqueios oficiaisda internetusandoVPNs, aDarkWebou aplicativos sociais, incluindo o Telegram. Seguir, no entanto, émais difícil do que nunca. Grande parte das doações ao Meduza é feita por meio de processadoras de pagamento que não estão mais operando na Rússia, tornando o site cada vez mais dependente de doações internacionais. Dzyadko, o editor da TV Rain, disse aoCPJque seumeioprecisade tempopara se reestruturar depois de tersidoproibido. “Nãoseidizercomo, em que formato ou quando retomaremos as atividades”, disse. Dias depois de Muratov ter prometido “chamar de guerra a guerra”, a NovayaGazeta declarou, na esteira da lei das “fake news”, que removeria artigos sobre a invasãode seu site e pararia de cobri-la dali para frente paraprotegerseus jornalistas, embora o jornal tambémtenha dito que continuaria cobrindo as consequências internas da guerra, incluindo a “perseguiçãodedissidentes, inclusivepor declaraçõesantiguerra”.Comorelatou MashaGessen,da TheNewYorker, em umperfil recente da NovayaGazeta, Muratov fez, ao longodos anos,muitas “concessões complicadas” para manter seus repórteres seguros – interromper a cobertura daChechêniaparaprotegerumcorrespondente cujo colega acabara de ser assassinado, cultivar relações e praticar o que chama de “diplomacia secreta” com agentes do poder –, pressionando aomesmo tempo “a fronteira em constante movimento daquilo que é possível na Rússia, mas nunca tanto apontode a NovayaGazeta ser fechada (fato ocorrido no dia 28 de março)”. Oúltimo lance parecemais uma concessão dessas. ComoAntonTroianovski escreveu no New York Times, analistas viram algoparecidonocasodeAlekseiVenediktov, editor de longa data da Ekho Moskvy, atribuindo a sobrevivência da emissora às “conexões pessoais deVenediktov coma elitenopoder”, bemcomoao“desejodePutindemanter um semblante de pluralismo em meio ao crescente autoritarismo”. O disfarce caiu, assim como a Ekho Moskvy.A NovayaGazeta, outropilar damídiarussa independentenasúltimas décadas, não resistiu e fechou. Em uma newsletter por e-mail a leitores, Nadezhda Prusenkova, jornaPutin assinou uma lei orwelliana que criminaliza notícias “falsas” sobre a guerra. A pena para infratores pode chegar a 15 anos de prisão. Temendoprocessos, sitesde jornalismo independentefecharamasportas

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