Revista de Jornalismo ESPM

32 JANEIRO | JUNHO 2022 a revolta. E aí, no outro dia, estão se mobilizandoeerguendobarreiraspor toda parte. Em rodovias, na entrada depequenas cidades eembairros. As pessoas tinhamsacadoarmas, apenas protegendo, procurandosabotadores russos.Querodizer, asestradasemuitos postos de controle à noite, você precisa acender as luzes, e a coisa do satélite, e olhar para você. Querem saber quem você é, e a nação inteira está em vigília. E, enquanto vê essas duas cidades, oataque às duasmaiores cidades, o resto do país sabe que ospróximospodemser eles, easpessoas estão se preparando. Fomos a uma cidadezinha e, chegando lá, há um ataque aéreo, as sirenes soam e as pessoas passam calmamente por nós, descendo. Por gentileza, vápara aquele bunker láembaixo, havia lugar para sentar, comida e água, e caminhas para todas as crianças. Eram grandes o suficiente para acomodar um adulto também. As pessoas ficavam lá, deitadas. Teve quem trouxe o cachorro. Tinha gente com gatos em gaiolas. É como se sempre tivessem feito aquilo, e na verdade tinha começadodoisdiasantes,poucosdias atrás.Éumpaíscompletamentediferente e está tudo fechado. Kyle Pope: E como as pessoas estão comendo? Tem mercado aberto? Eleanor Beardsley: Sim, os supermercados ainda estão abertos, embora, naquela cidadezinha em que fomos, a família disse que tinha idonaquelediaenãohavianadapara vender. O funcionário disse que os caminhões tinhamsido atacados na fronteira. Não na fronteira, mas no acesso, nos limites da cidade. Há muito medo. Ninguém sabe o que estáacontecendo, as lojas estãoabertas e tem comida e água. Há filas enormes nopostode gasolina. Isso é uma coisa séria, e só estão deixando as pessoas compraremcinco galões por vez. É umproblemaço não ter o carroabastecido.Tivemosdeesperar muito para abastecer, muitas vezes. Kyle Pope: Agora, Eleanor, queria perguntar sobre a ligação do seu marido. Ele ligou às 3h30 da manhã quando isso aconteceu. Você falou comele. Sei que você tem filhos. Você refletiu muito sobre isso? Imagino que você já estivesse pensado, fico ou vou embora? Mas queria saber como foi esse processo de reflexão ali. Eleanor Beardsley: Foi horrível, eu estavacommuitomedo.Nãoéqueeu achassequeminhavidaiaacabar,mas eu pensava: meuDeus, estou aqui no extremo leste daUcrânia, a 40 quilômetros da Rússia, nessa cidadezinha minúscula. Eu não achava que isso aconteceria. Que podia ser isso. Não entrava naminha cabeça. Ou seja, eu estava 100% equivocada. Mas muito mais gente, os ucranianos estão em estadodechoque.ÉcomoseestivéssemosvivendoaSegundaGuerraMundial em 2022. É inconcebível. Acabo dereceberumvídeodeKharkivsendo bombardeada de uma amiga minha. Aofundo, épossível veroprédiodela. Hoje elamora na Califórnia, mas seu pai está lá e tem80 anos, e as pessoas quefilmaramestãoconversando, edá paraverbombaschovendosobreuma zonaresidencial.Então,bom,naquele momento,nossossegurançasdisseram queprecisávamosirparaoporão.Meu marido disse: “Você tem passaporte francês? Eu nunca me lembro”. Eu respondo: “Não, nãotenhoumpassaportefrancês”.Precisotirarum.Eele: “Vocênãodeviaficarpresaaí comum passaporteamericano,nãoé?”.Eeusó pensava,ai,meuDeus,nãoqueroestar aqui quando os soldados russos chegarem, era só o que eu pensava. Você fica sem saber o que fazer. Quando ele me ligou, estava escuro, e eu chamei nosso segurança que estava logo aliedecidimospegaraestradaemum carro, só nós três naquelas estradas escuras. E aquilo não parecia seguro. Então, decidimos esperar até o amanhecereaídecidiroquefazer.Edecidimos ir embora. Eu estou tão contente de termos ido porque, depois disso, parece que as estradas foram bloqueadas e não dá para voltar. Mas milhõesdeucranianosestãotomando “Se eu estivesse emKiev, estaria apavorada, sim. Compavor de pensar no que soldados russos fariamse encontrassemuma jornalista americana. E não são só os russos. São chechenos, mercenários...”

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