Revista de Jornalismo ESPM

50 JANEIRO | JUNHO 2022 douros perfeitos para que a poluição flua livremente. Se não pudermos identificar o real problema, qualquer solução adotada será ineficaz. O apelo, em suma, não é para ‘não dar a notícia’. É para ampliar o campo de visão de modo a contar verdades maiores.” Mãos à obra! Mas como fazer esse trabalho de separar o joio do trigo em meio ao fogo cruzado, na linha de frente da batalha? Única brasileira a cobrir a guerra entre Rússia eUcrânia, a jornalista catarinense Anelise Borges trabalha há 16 anos como correspondente internacional em áreas de conflito. Já trabalhou na Síria, no Afeganistão, no Irã, na Líbia e agora está na fronteira entre aUcrânia e a Rússia. De lá, em entrevista ao jornal ND, ela aponta suas teorias a respeito do papel atual do jornalismo: “A maior missão do jornalismo é construir pontes. Trazer as pessoas que estão longe dessas zonas de guerra, de perigo, para perto. Aproximar sereshumanosque tenham realidades distintas. Colocar umno lugar do outro. Fazer essa gente que está confortável entender que se fosse aquela senhora que não tinha o que comer ou um menino que pode ter a sua fazendinha invadida faria o mesmo”. Formada pelaUniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC), Anelise conta que escolheu o curso de jornalismo porque queria ser uma contadora de histórias. “Foi umchoque. Eu aprendi valores que não estava preparada. Aprendi que a verdade é muito importante. Não era a vida que eu tinha imaginado e isso só aumentoumeu interesse e curiosidade”, detalhou a jornalista em entrevista ao jornalista Kalil de Oliveira, do jornal ND, de Florianópolis (SC). No últimomês demarço, Anelise estava em Kiev, capital da Ucrânia, e concedeu uma entrevista ao Fantástico, da TVGlobo. “Temos de julgar diariamente até onde podemos ir e o que faremos no dia seguinte.” E é com base nesse julgamento que Anelise temcontado grandes histórias, como a trajetória do ucraniano Vlad, de 22 anos, que sonhava em sermédico, mas optou por ir para as trincheiras de uma frente de combate no norte daUcrânia, ou ainda a rotinadeumhospital psiquiátricoem Mariupol. “Para os ucranianos, essa guerra começou há oito anos, coma Rússia anexando a Crimeia. Existe medo e revolta no ar. E é esse desespero e essa angústia que cansa. Tentar achar sentido nisso para contar uma história é o maior desafio que tenho vivido aqui!”, afirmou a jornalista ao Fantástico. Realizar uma cobertura de guerra é uma experiência para poucos e pode surpreender até mesmo jornalistas veteranos, como Roberto Cabrini, único brasileiro a cobrir a ascensão do Talibã no Afeganistão (em 1994), alémde atuar como correspondente em conflitos no Camboja (1990), naPalestina (1967-1993), na Guerra dos Curdos (1991) e na Caxemira (1999). “Na minha carreira, tive a chance de cobrir cinco guerras que me desafiaram, testaram meu equilíbrio. Mas acho que nada foi mais desafiador, paramim, do que noticiar a morte de Ayrton Senna. Eu cobria todas as corridas de Fórmula 1 na época. E estava no autódromo de Imola quando o acidente aconteceu.” Cabrini foi o repórter que anunciou a morte do ídolo brasileiro: “Morreu Ayrton Senna da Silva, uma notícia que a gente jamais gostaria de dar”. Ele se lembra da dificuldade que teve para manter a precisão das informações e passar a emoção necessária, sem perder o controle: “Era uma frase simples, mas acho que simbolizou bem, porque as pessoas ainda se lembram”, registrou o jornalista emuma entrevista para o site Memória Globo. Issoatéele sentir amorteapoucos quilômetros de distância, durante a cobertura da guerra na Ucrânia. “No dia 13 de março, quando o documentarista e ex-repórter do ENQUANTO ISSO NO BRASIL... Assim como botar mais dinheiro em um negócio ruim dificilmente irá impedi-lo de afundar, por informações boas a informações poluídas dificilmente vai mitigar suas toxicidades

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