Revista de Jornalismo ESPM

54 JANEIRO | JUNHO 2022 PESQUISA JORNALISTA, EVITE DIZER QUE É UM CONTADOR DE HISTÓRIAS! DESDE QUE PROFISSIONAIS DE MARKETING, no afã de encontrar pontos de contágio entre propaganda e jornalismo, inventaram a expressão “storytelling”, passou a ser moderno dizer que “jornalismo é contar histórias”, que jornalistas são “contadores de histórias” ( storytellers). Só que não: trata-se de mais uma herança maldita que a publicidade deixa sobre os ombros de uma profissão já abalada por uma sucessão de crises. A opinião pública, na verdade, associa “contadores de histórias” a mentirosos. Foi o que revelou uma estudo feito por pesquisadores norte-americanos que perguntaram o que as pessoas acham da definição dos jornalistas como “contadores de histórias”. Com base em perfis de usuários do LinkedIn, os estudiosos descobriram que os jornalistas consideram um valor ser chamados de “contadores de histórias”. Por isso a maior parte das pessoas que usam essa expressão para definir sua atividade profissional são jornalistas ou ex-jornalistas. Ao mesmo tempo, a expressão provoca reações negativas do público, que considera que “contadores de história” fazem relatos enviesados, como explica a reportagem publicada no site do NiemanLab (www.niemanlab.org), programa de jornalismo da Universidade Harvard (“Sounds like a well-trained liar”, reportagem de 7/3/2022). Os pesquisadores da Universidade de Cincinnat i (EUA) submeteram a 2,1 mil pessoas um mesmo texto, uma reportagem sobre assunto local de uma pequena cidade. Para metade dos entrevistados, eles revelaram que o autor do texto se define como “contador de histórias”; para os outros, o autor é simplesmente “jornalista”. O resultado apontou que a avaliação do texto muda radicalmente entre os entrevistados informados de que o autor se define como “storyteller”: nesse caso, cresce o número dos que avaliam o texto como enviesado, com tom sensacionalista, que falhou em dar tratamento justo às pessoas retratadas no texto. O resultado revela a desconexão entre jornalistas e seu público, a ponto de um achar que é um valor o que para o outro é um defeito: o que o público acha sobre “contadores de história” é inteiramente diferente do que os jornalistas pensam sobre o assunto e ainda mais o que os diretores de marketing acham quando opinam sobre o “storytelling” dos textos jornalísticos. ■ SHUTTERSTOCK PARA LER E PARA VER LEÃO SERVA

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