4 JANEIRO | JUNHO 2022 dizia riobaldo que viver é muito perigoso. Mal podia ele supor o quantomais perigoso iria se tornar desde a dobrada do milênio. Perigoso, entre outras coisas, porque complicado, oumelhor, emaranhado. Vivemos mergulhados em um grande imbróglio nesta era do big data, da inteligência artificial, da dataficação, das novas acrobacias do capitalismo de plataforma, de vigilância, de neocolonialismo de dados, era da grande aceleração e crise climática, oumelhor, do “capitaloceno” ou ainda “antrobsceno”, era também do metaverso e suas perspectivas de obliteração do senso de realidade, e, no que diz respeito ao universo da comunicação, era da voragem da desinformação. Longe de ser uma hipérbole, com a ideia da voragem, quero chegar à imagem de um buraco negro que vai absorvendo tudo que passa por perto. Para o que está acontecendo, toda preocupação é ainda pouca. Não há meias palavras, nem tergiversações, tendo emvista os efeitos nefastos e destrutivos que a desinformação, acionada pelo paradoxal funcionamento das redes digitais, provoca na sanidade da vida pública, social e capilarmente da vida psíquica. Embora seja impossível tratar, de uma só vez, dos impasses e dos dilemas acima elencados, eles aqui comparecem como palavras-chave para alertar ao fato de que a desinformação não é um fenômeno isolado. Embora seja preocupação magna especialmente dos jornalistas e daqueles que prezam e lutam pelo bem comum, a que ainda chamamos de democracia, as fake news e a desinformação por elas provocadas fazem parte de um emaranhado de problemas que se entretecem de modo denso. É enorme o número de livros e artigos acadêmicos, de matérias e colunas em meios noticiosos, de colóquios e palestras que, desde pelo menos 2016, foram e continuam a ser produzidos e divulgados no Brasil e em outros países na busca de diagnósticos que sejam capazes de indicar caminhos de enfrentamento. Já em 2017 e em outros documentos posteriores, A voragem da desinformação O que promove a disseminação desmedida da desinformação não é apenas a indústria maligna de bots, mas sobretudo a ignorância das pessoas. Como combater esse problema mundial? LUCIA SANTAELLA SHUTTERSTOCK.COM IDEIAS + CRÍTICAS
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