Revista de Jornalismo ESPM

58 JANEIRO | JUNHO 2022 O PROFETA DA ALDEIA GLOBAL E DO MEIO COMO MENSAGEM NADA NA INDÚSTRIA EDITORIAL se comparou ao fenômeno Marshall McLuhan no início dos anos 1960. Suas vendas dispararam como um Sputnik, muito acima de todos os outros ensaístas daquele tempo. Ele se tornou uma espécie de rede social: era impossível estar “por dentro”, ser inteligente, inovador e dinâmico, sem conhecer sua obra ou citar algum de seus conceitos. McLuhan foi uma rara mistura de cientista social profundo e inovador, guru, astro pop e marqueteiro, a mais pura essência da definição de “influencer”. O Brasil demeados dos anos de 1960 vivia às voltas coma chegada da indústria automobilística, da ditadura e damúsica de protesto, dos Beatles e da Guerra do Vietnã. A chegada do fenômeno McLuhan coincidiu também com a vertiginosa ascensão da audiência da primeira rede nacional de TV, a Globo, que se apropriou imediatamente (até pelo trocadilho com seu nome) do conceito de “Aldeia global”, que o pensador canadense lançara ao defender a ideia de que os meios eletrônicos poriam pessoas de todo o planeta em uma interação que antes só ocorria entre moradores de umamesma vila. “O meio é a mensagem” (expressão que ele transformou em título de um de seus maiores best-sellers, um livro de bolso, com pouco texto e muitas imagens) foi outra expressão que caiu no gosto popular. Virou uma verdade indiscutível ao ser apropriada pelo senso comum, mais ou menos como o pensamento de Einstein virou o bordão “tudo é relativo”... “O Meio é a Mensagem”, provavelmente a mais poderosa das ideias expressas em seus ensaios, ressalta o fato óbvio, mas até então irrefletido de que os meios de comunicação são veículos tão diferentes entre si que os conteúdos que carregam são amoldados pelo continente. Se eu escrevo à mão a frase “Marshall McLuhan escreveu muitos livros” em uma folha de papel em branco ou se digito a mesma frase no WhatsApp na tela de um smartphone, a natureza do suporte é tão radicalmente diferente que carregará em si uma mensagem. Como Deus está nos detalhes, o artigo “a” no meio da frase tem sido tema de longas discussões desde então. É claro que McLuhan não lançou mão do artigo à toa. Mas ele empresta uma radicalidade totalitária à ideia que parece, por sua vez, esquecer algo que virou clichê mais recentemente: o conteúdo é rei. Não é fácil perceber em que limite a mensagem específica pode ser compreendida igualmente em qualquer suporte (sois rei?) ou sua percepção se alterará de tal forma, de meio para meio, que o resultado será um para cada meio. É discussão para a vida toda. Ou, parafraseando o ditado italiano “Tra dire e fare c’è di messo il mare”, entre os dois conceitos, há um oceano a ser explorado... Logo cedo, no Brasil, jovens e influentes professores dos novos cursos de comunicação que se estabeleciam por aqui identificaram sua potência. Luiz Costa LiSHUTTERSTOCK PARA LER E PARA VER LEÃO SERVA

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