Revista de Jornalismo ESPM

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 61 do Leste. E, de fato, em 1999 ocorreu uma guerra no Kosovo e em 2000 quase eclodiu uma outra na Macedônia. Não era futurologia, mas conhecimento de história. Ao longo das diversas coberturas de guerra descritas no livro, A Primeira Vítima contém algumas revelações que funcionam como furos. Talvez, o mais famoso deles tenha sido a sugestão (depois comprovada) de que o grande fotógrafo Robert Capa encenou a foto que se tornou famosa como A morte do soldado espanhol . Tratando da Primeira Guerra do Golfo, o livro também mostra que a “precisão cirúrgica” dos mísseis americanos nunca existiu, que os jornalistas compravam pelo valor de face os relatórios militares que apontavam “100% de sucesso” no lançamento do projétil, quando na verdade os relatos tratavam como “bem-sucedido” o míssil que não explodia no lançamento e não se ele atingiu o alvo ou não.■ DIVULGAÇÃO THEFIRSTCASUALTY, de Philip Knightley. Johns Hopkins University Press, 2004 LIVROS CONTOS DE RUSSO E UCRANIANO, PARA ENTENDERO CONFLITO SE É VERDADE QUE A VIDA IMITA A ARTE, talvez a literatura possa ajudar a compreender a realidade do conflito entre Rússia e Ucrânia. Para tanto, convém buscar o auxílio de um escritor russo, Leon Tolstói, e de um ucraniano, Isaac Bábel, em textos inspirados por áreas imersas no atual conflito do Leste Europeu. Liev (que em russo quer dizer “leão”, o que o levou a ser chamado de Leon) Tolstói lutou como militar na Guerra da Crimeia (1853-56) e depois de participar do conflito escreveu três histórias reunidas sob o nome de Contos de Sebastopol (1855) – o título faz referência ao porto que sediava a principal base naval russa na Crimeia. O livro é apontado pela crítica como uma espécie de rascunho para a concepção da obra-prima Guerra e Paz (1869). Isaac Bábel nasceu em 1895, quatro décadas depois da Guerra da Crimeia. Era judeu ucraniano e fez da cidade natal, Odessa, o cenário de uma série de histórias curtas no livro Contos de Odessa. Odessa era um porto fervilhante, com gente de todo o planeta e uma cultura cosmopolita, muito diferente do cenário conservador do interior do império russo. Bábel começa a amadurecer como escritor nos primeiros anos após a Revolução de 1917, foi adotado intelectualmente pelo escritor Máximo Gorki (1868-1936), referência literária na Rússia e comunista desde sempre. Bábel seguiu os conselhos literários e o exemplo político do veterano escritor: tornou-se comunista e manteve, paralelamente ao ofício de escritor, uma relação constante com a polícia política do governo soviético. Acabou morto pelo regime stalinista em 1940, ao cair no ostracismo, após a morte de seu inspirador. Depois que o ditador Josef Stálin morreu, ele foi perdoado em 1954 e sua memória reabilitada. Bom para a biografia, mas tarde demais para o escritor. ■ SHUTTERSTOCK

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