Revista da ESPM - 124

REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 124 | 2022 18 INUSITUDE maioria dos que realizam a prova. Não se nega que conceitos e teoria sejam importantes, tampouco se nega a importância do exame daOAB, que habilitará o bacharel aexercer aadvocacia.Maso fatoéquea conjunturaacima mencionada temtrazidoà tonaalgumasdiscussões sobre a formação jurídica e o desenvolvimento de habilidades profissionaisquepossamatenderadequadamenteaonovo contexto social: a globalização, a digitalização e a busca por produtividade e eficiência. Mas, então, o que omercado jurídico espera do profissional do Direito? E como um curso poderá suprir tais necessidades? É preciso compreender que omercado jurídico é bastante amplo, já que o curso de Direito é umdosmais versáteis, possibilitando que o bacharel exerçamuitas ocupações que não serão, necessariamente, a de advogado. Primeiramente, vale mencionar as carreiras públicas (delegado de polícia, juiz de Direito, promotor de justiça, defensor público etc.), que, a despeito de poderem pagar boas remunerações, dependem de aprovação em difíceis concursos e cujas principais habilidades cobradas são o conhecimentoda “letrada lei”, istoé,muitoconteúdo jurídicoteórico,muitos textoscomoconstamdas leis. Sãoconcursoscujasprovassão,emsuaimensamaioria,compostas por uma fasedequestõesdemúltiplaescolhaeoutras com redações, elaboração de peças jurídicas e até fases orais. Paraeste tipodecarreira, normalmenteomodelo tradicional de faculdade deDireito—oDireito clássico— funciona melhor, jáquenãodependedeaspectosdenegócios, de soft skills eoutras competências ehabilidades que as carreiras privadaspodemdemandar.Omercado jurídicoaqui ébem peculiar, porqueos concursos acontecemconforme adisponibilidadeorçamentáriadosórgãospúblicosepodemser maisoumenos frequentes justamentepor isso.Alémdisso, órgãospúblicosnormalmentenãodemandamconhecimentos de negócios como o exercíciode ocupações privadas. Por outro lado, há justamenteas carreirasprivadas, que englobamaadvocaciaemescritóriopróprio, emescritório de terceiros ouemempresas, bemcomoocupações correlatas, como as de compliance e de proteção de dados pessoais. Para esses casos, a faculdade deDireito nosmoldes tradicionais—oDireitoclássico—nãobasta, jáque, de fato, nãoajudaoalunonosdesafiosdomercadode trabalho, nos processos seletivos mais concorridos e nas atividades de empreendedorismo.Maisdoque isso, nasatividadesprivadas tem-sepercebido, aindaqueempiricamente, tendência deautomaçãode tarefasespecialmenteparaprofissionais em início da carreira. Há adoção, por escritórios de advocacia, de soluções tecnológicas — com destaque especial paraocontenciosodemassa—paraautomatizardemandas comtesesquepodemser repetidaseemcasoscujoretorno financeiroébaixo.Alémdisso,estãosurgindocadavezmais oportunidadesparaprofissionaishíbridos, justamenteos queconseguemmesclar aspectos jurídicoscomanálisede dados, resolução de problemas complexos, comunicação visual. A exigência de que se domine a tecnologia passa a existirnodisputadomercadode trabalho. Afinal, departamentos jurídicos têm-se transformado para se tornarem mais estratégicos e, inclusive, capazes de gerar melhores resultados financeiros para os negócios. Verifica-se, portanto, que os mercados de trabalho público e privado são bastante distintos sobre suas exigências. Adicione-se a isso o fato de que a formaçãomassificada de profissionais não os capacita para o exercício das profissões jurídicas a contento, emespecial para as atividades da iniciativa privada, o que se contrapõe à busca por profissionais com formação “diferenciada” para que façamparte de instituições integrantes da economia digital. Esta busca por profissionais com formação “diferenciada” é onde se encontra a “advocacia do futuro”, que permite que os profissionais se adaptemàs transformações sociais decorrentes da economia digital e que demandamnovas habilidades. Entendendo que o caminho para a excelência profissional não é amassificação no ensino doDireito, surgem legítimas preocupações sobre as habilidades e competências que são necessárias para que os advogados se destaquemnomercadode trabalho. Das habilidades buscadas nos novos profissionais jurídicos encontram-se as socioemocionais — as chamadas soft skills ou human skills —, que abrangemadaptabilidade, empatia e proatividade. Alémdas soft skills, são valorizadas as habilidades de outras áreas, tais como a de finanças, compliance, Omercadonãoconsegueabsorver tantos profissionais comdéficit emcompetências voltadas para a economia digital e conectada

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