Revista da ESPM - 124

EDIÇÃO 124 | 2022 | REVISTADAESPM 77 Ainterferência e o impacto da cultura no desenvolvimento socioeconômico parecem ser consenso em diversas esferas: desde as áreas de conhecimento acadêmico até os diversos mercados e economias chamados criativos. A interferência da cultura nos processos de desenvolvimento de uma organização, de um setor e de um país acontece e e assunto que compõe a agenda — na academia e fora dela — ja ha algum tempo. Dentro desse cenário, a arena cultural tem papel crítico neste desenvolvimento. Na contemporaneidade, os processos da indústria cultural tornam-se estratégicos para o desenvolvimento mundial. O interesse do assunto em campos de conhecimento que vão além da sociologia e da antropologia e mais recente. Em digressão histórica de conceitos e relações estabelecidas pela cultura e seus contextos, é fácil verificar que a cultura na modernidade jamais desfrutou de qualquer protagonismo por não estar incorporada em outras esferas da vida social, como, por exemplo, a política e a economia. O pesquisador George Yudice (2006) parte dessa expansão da cultura para construir a ideia de que e um recurso, um insumo produtivo, uma visão muito disseminada a partir da globalização. David Harvey (2003), por exemplo, conclui em seu trabalho A arte de lucrar: globalização, monopólio e exploração da cultura que a cultura e seus produtos são as melhores opções na busca de singularidade, autent icidade, particularidade e especialidade para gerar “rendimentos monopól icos” em tempos de ext inção das formas de proteção aos monopólios. Segundo o autor, esta consequência da globalização fez gerar a necessidade capitalista de novas alternativas para a existência de monopólios, encontradas no simbólico, na propriedade intelectual . Neste sentido, alinham-se as propostas da indústria criativa e suas proposições de negócios, em que nós, da ESPM, atuamos com muita propriedade. Acreditamos que o desenvolvimento humano é condição para o desenvolvimento econômico e, portanto, para que ambos aconteçam, a valorização do social é fundamental. E isso não se faz sem o apoio regulatório. Até o momento, vimos caminhando abertamente e rápido nos desenvolvimentos criativos provocados, um tantopelas tecnologias, outropela criatividade humana. E é neste encontro que a ideação e as proposições do espaço das indústrias criativas nascem. O audiovisual, o design, a propaganda, a ciência, as técnicas negociais e a tecnologia são todos parte da mesma solução. E o que têm em comum? Evidentemente, o centro motriz da criatividade e da propriedade intelectual, o que nos traz soluções para uma série de dilemas sociais e econômicos, depende diretamente da regulação. Por exemplo, no audiovisual, atualmente, uma das questões que precisamos enfrentar é a regulação do streaming, como a propriedade intelectual pode ser valorada e remunerada neste contexto e no ambiente digital e o que isso representa para a construção identitária de um país. A regulação, neste caso, vem do acompanhamento do Direito das situações da propriedade intelectual. A pandemia impôs relevo nestas questões: se, por um lado, houve aceleração e antecipação das possibilidades de produção e consumo digitais por conta das limitações impostas pela crise sanitária, por outro, a proteção autoral das obras produzidas e distribuídas no ambiente digital não tiveramtempo de se adequar. Vale, ainda, observarmos o desafio imposto pela desterritorializaçãodas atividades, comcocriações e parcerias em todo o mundo, comdiferentes normas e leis distintas. É neste âmbito que vemos que o Direito ainda não age com a rapidez necessária ao desenvolvimento da economia e dos setores criativos. Para o audiovisual, assim como para os demais setores, o olhar com foco nestas questões é fundamental. A colaboração entre o olhar do Direito e a operação do audiovisual é importante para conseguirmos nos desenvolver como um todo, criando lugares de expressão e representação, valorizados pela sua importância simbólica e, também, econômica. Gisele Jordão Costa Doutora em comunicação e práticas do consumo (ESPM-SP), mestre em gestão internacional (ESPM-SP), graduada em comunicação social (ESPM-SP). Atualmente, é sócia-diretora da 3D3 Comunicação e Cultura e professora da ESPM São Paulo

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