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14 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 MARCELO – Eu gosto dos contatos com os jovens, então vou aproveitar para dar um bom conselho: trata- se de uma ótima opção, mas se o foco é trabalhar no que chamamos de “circuito Elisabeth Arden” – em Londres, Paris ou NovaYork – então talvez não seja a Unilever onde você tem de trabalhar... JR – Mas e se esse jovem for abso- lutamente ótimo, você o deixaria ir embora, sem falar com os seus colegas de Nova York, Paris ou Londres? MARCELO – É possível que eu fa- cilitasse, para ele, um contato com meu colega dos Estados Unidos, teria uma conversa com ele. JR – Você acha que o brasileiro de modo geral se exporta bem? MARCELO – Não é somente no Brasil, mas na América Latina. Os jovens que procuramos, não só com nível de educação, mas com a formação, energia, comprome- timento... Essas pessoas em geral tiveram nível de educação diferen- ciado e são muito competitivas, em qualquer lugar do mundo. Mas eles não representam a média brasileira, argentina ou mexicana. Esse círculo virtuoso, de que falamos antes, faz com que eu consiga atrair pessoas que tiveram e aproveitaram um nível de educação excelente. E se as pessoas têm isso, somando a flexibilidade, vivem num ambiente diverso, eles fazem sucesso. JR – Não é, então, nada como o futebol? MARCELO – Razão do meu amor e sofrimento. JR – Nisso, estamos juntos, pois nossos dois países são exportado- res de craques. Mas não brinco: será que o executivo brasileiro ou argentino se compara de alguma forma ao jogador de futebol? MARCELO – Nunca pensei, nesse sentido. JR – Eu era jovem e vivia em Nova Iorque, houve um torneio internacional – e veio uma equipe espanhola que tinha um jogador brasileiro, que se chamava Índio. A gente assistia ao jogo e perce- bia que o jogador brasileiro era “diferente”, havia algo mágico no jogador brasileiro. MARCELO – É um paralelo inte- ressante. Nem todo exportador de talento é igual e eu diria que pode haver uma “fome” de aproveitar oportunidades fora, por pensar: “não tenho direito de não aprovei- tar”. Lembro-me, na Argentina, de alguém me respondendo à pergun- ta: você quer uma oportunidade? “Eu batalhei muito, para chegar aqui, e meus pais também bata- lharam; eu não tenho direito de não aproveitar”. Talvez tenha um pouco a ver com isso. Acontece também na Espanha e Itália, eles devem pensar: está aí a oportunidade, eu posso mudar a minha vida e a dos meus filhos... JR – Bom se isso fosse inteira- mente verdade, os jogadores de outros países também brilhariam. A revista The Economist , há al- guns anos, publicou um encarte sobre o Brasil em que afirmava que os executivos brasileiros são surpreendentemente com- petentes. Não dizia com ironia, mas apenas que estava acima da expectativa dele. E estabe- lecia uma comparação entre a empresa privada no Brasil e a administração pública, dizendo que a administração pública deixava muito a desejar, mas que – na administração privada – os executivos tinha excelente n í ve l . I s s o pode r i a s e r uma tendência? MARCELO – Acho que é. Porque todos os dias um novo executivo brasileiro brilha, em ambientes muito diferentes do que temos no Brasil, em companhias globais ou multinacionais. Para mim é uma tendência, e o grande desafio é como fazer crescer a escala, como gerar nível de informação e educação que possibilite que isso aconteça. JR – Na ESPM estamos muito a t e n t o s a e s s e p r o c e s s o d e internacionalização dos profis- sionais e das empresas brasilei- ras. Muito obrigado pelo seu depoimento. ES PM “É UM MITO QUE AS MULTINACIONAIS PAGUEM MELHORES SALÁRIOS DO QUE AS NACIONAIS.” Entre vista
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