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39 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Célia Marcondes Ferraz esde o início do processo de indus- trialização, empresas têm-se juntado às instituições de ensino no esforço de formar pessoas, embora nem sem- pre tenham trabalhado juntas e de forma harmoniosa. Não são poucas as críticas feitas à qualidade do ensino no Brasil, e mesmo em países onde o ensino é de excelente qualidade, como na Europa e nos EstadosUnidos, são expressivos os investimentos em formação de pessoas feitos pelo setor produtivo. O objetivo das empresas em relação ao tema sempre foi manifestado de forma clara: era preciso preparar os trabalhadores para executar funções operacionais e promover odesenvolvi- mento das habilidades necessárias à realização das atividades profissionais. Mais recentemente, os investimentos na formação de pessoas se voltaram para o desenvolvimento de competên- cias importantes para o negócio, e na busca de atitudes adequadas ao mundo do trabalho. Já em 1920 a Ford possuía três es- colas totalmente mantidas por ela e, além de ensino, ofereciam bolsas de estudos em dinheiro. A primeira, denominada escola Ford, era desti- nada aos filhos dos empregados e aos órfãos, revelando, já naquela época, a consciência da benéfica cooperação com o poder público para formar ci- dadãos.A escola do serviço preparava estudantes estrangeiros para trabalhar nas sucursais da companhia, e a es- cola de aprendizagem era voltada à formação de ferramenteiros, em um curso com duração de três anos, com aulas durante oito horas diárias. O aluno estudava nos manuais da Ford e os instrutores das unidades industriais assumiam o papel de professores. O tempo de aprendizado era dividido entre as salas de aula e os estágios nas fábricas. Certamente uma iniciativa louvável, não fosse pelo fato de que a visão de mundo oferecida aos alunos era apenas e tão-somente aquela de um ponto de vista da empresa. Ao mesmo tempo em que admiramos as escolas da Ford, não podemos deixar de perguntar se conteúdos tais como: a formação moral, a história e a literatura, que representam parte essencial da cultura de um povo, constavam dos seus currículos. Um processo de formação extremamente direcionado ao trabalho, e ministrado por profissionais do terreno, até que ponto tem legitimidade, dispõe dos conhecimentos e tem propriedade para formar cidadãos? Por outro lado, é bem verdade que, nessa mesma época, o ensino básico da quase totalidade dos países, assim como doGrupo Escolar e oGinásio no Brasil, não estavam de forma alguma voltados à formação de pessoas para as empresas. O preparo pessoal exi- gido pelas fábricas era, contudo, até certo ponto superficial. Os preceitos da administração preconizados por Taylor, Fayol e também por Ford, recomendavam que, para operar de forma eficaz, as funções empresariais deveriam ser executadas separada- mente, por trabalhadores diferentes, sendo que aquele que produzisse não deveria planejar, registrar, ou controlar e vice-versa. Competia aos trabalhadores da produçãomanejar as máquinas, e aos supervisores de linha controlar, garantindoo ritmodesejado. O conhecimento sobre as diferentes atividades empresariais era, portanto, fragmentado, e as tarefas simplifica- das, permitindo que a qualificação demandada dos trabalhadores fosse muito pouca. No Brasil, a criação do SENAI, em 1942, foi uma resposta à necessidade de formação de mão-de-obra, para atender às demandas do crescente desenvolvimento industrial, agravada pela Segunda Guerra Mundial. A iniciativa representou uma evidência de que o sistema de ensino oferecido pelos grupos escolares, e até mesmo pelos ginásios, não qualificava, ade- quadamente, profissionais para o tra- balho. Deveria caber ao Estado a for- mação de pessoas para as indústrias? Esta dúvida fez parte das discussões da época e, talvez por reconhecer sua responsabilidade no processo, o SENAI foi organizado com o apoio do Estado, embora tenham sido in- dustriais liderados por Euvaldo Lodi, na época, presidente daConfederação Nacional da Indústria (CNI), e por Roberto Simonsen, o então presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), que idealizaram e defenderam, entre o empresariado e o poder público, a iniciativa de viabilizar uma entidade voltada para a educação profissional, mantida, administrada e dirigida pelo próprio setor produtivo. No final dos anos cinquentas, com a introdução das máquinas de controle numérico, a produção se torna mais sofisticada e há uma demanda por profissionais commaior qualificação. O SENAI, embora necessário, não é mais suficiente, e são muitas as empresas que criam seus próprios departamentos para o treinamento dos Ð
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