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42 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 Educação para a vida ou formação para o trabalho? conteúdos neles ensinados resumem bem o desejo das empresas quando se referem ao profissional generalista. E nas organizações se investe em conteúdos voltados à compreensão do contexto específico daquela empresa, bem como no desenvolvi- mento das atitudes adequadas ao profissional competente no âmbito daquela organização, com seus va- lores e crenças próprios. O profissional competente é desta for- ma definido, caso a caso,mas emgeral inclui o domínio de forma excelente de conhecimentos e habilidades, além da compreensão das necessidades do negócio. É também especialmente valorizada a maturidade pessoal. Essa maturidade não exclui uma grande dose de criatividade, e inclui o desejo deempreender eacapacidadede traba- lhar em times, sempre embenefício da maior produtividade e competitividade das empresas. Além disso, ser compe- tente é não possuir atitudes reativas e conservadoras emrelaçãoàsmudanças nas formas de trabalho, única certeza que se pode esperar do futuro. E são atitudes maduras e inovadoras que os programas de formação buscam desenvolver, e são essas mesmas ati- tudes que sãomencionadas emartigos e em algumas entrevistas de diretores de recursos humanos, como a lacuna deixada pelas faculdades. Desde o final dos anos noventas sabía- mos que vivíamos um novo tempo no âmbito de trabalhar e produzir; e que era chegada a hora, também, de “competir pelo futuro”. E foi nos anos 2000queas empresas assumirama res- ponsabilidade de promover o desen- volvimento dos trabalhadores num sentido novo, e, para tanto, investiram nas Universidades Corporativas. O se- tor de serviços de alta especialização, a engenharia genética, a televisão interativa, a multimídia, os negócios pela internet, a telefonia móvel, exi- giam novas regras na estruturação da cadeia de valor, e a participação de umprofissional talentoso emuito bem preparado. Além disso, as empresas, para serem mais competitivas, neces- sitavam de uma elite intelectual que utilizasse as suas habilidades analíticas para planejar, desenvolver produtos e serviços e controlar a produção, agregando valor, pelos conhecimentos que possuem e pelas informações fornecidas às empresas. Somente essas pessoas podem trazer respostas corretas sobre a atuação empresarial nos tempos de grande incerteza em que vivemos. E as Universidades Corporativas tiveram por missão preparar estes profissionais. Foram muitas as questões que surgi- ram quanto à efetiva contribuição das Universidades Corporativas que em pouco tempo poderão, nos Estados Unidos, superar em número as Uni- versidades do ensino oficial, como parte do esforço de educação do país. Não podemos nos esquecer que a educação é uma forma específica de influência social. Sendo assim, de que forma a educação oferecida pelas empresas influencia as pessoas? Poderiam essas entidades, que tão bem preparam os profissionais para o trabalho, prepará-los também para a vida em sociedade? O trabalho é apenas uma das dimen- sões da vida social, e o desafio de viver em sociedade determina que exista o entendimento entre os seres humanos. Ora, isso somente é possível a partir do momento em que, com nosso ponto de vista, formos capazes de perceber e nos dispormos a adotar o ponto de vista do outro. Um indivíduo maduro é quem tem na sua forma de agir a permanente busca do entendimento com as outras pessoas. Não apoiado numa posição de autoridade, mas fazendo prevalecer razões que podem convencer a todos igualmente, e não baseando-se somente nos argumentos e razões que refletemas suas preferên- cias, ou as de uma outra pessoa qualquer, e que, na prática, não pode atender aos interesses de todos. Seria esse o profissional maduro desejado pelas empresas, aquele que é capaz de conciliar o interesse divergente? Se a sua transformação, a partir da educação oferecida pelas empresas, fizesse deles pessoas mais conscientes e capazes de dialogar, eles entenderiam que a forma das organi- zações verem o mundo, de definir o que é adequado ou não no compor- tamento das pessoas, baseia-se em crenças, valores, desejos e princípios individuais, ditados pelas demandas dessas mesmas organizações, e que, talvez, não sejamas melhores práticas em outras esferas da vida humana; neste caso, certamente, estaríamos falando de um indivíduo maduro. Se os profissionais formados no trabalho adquirissem a capacidade de argu- mentar a favor dos interesses maiores da sociedade e saíssem em sua defesa, mesmo quando se chocas- sem com o interesse específico da empresa, certamente poderíamos considerá-los maduros. A educação não deve estar limitada às necessidades do mundo do trabalho, precisa estar voltada à formação de um indivíduo para a família, para o trabalho, para a comunidade e para o país, e deve ensinar que as relações
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