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Entrevista 46 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 REVISTA DA ESPM – Você acha que as empresas têm razão de dar tanta ênfase aos aspectos comportamentais e psicológicos ao selecionar jovens candidatos a cargos executivos? MAX – As empresas – principalmente as grandes, que atraemmais interessa- dos – estão tentando administrar uma situação que é característica do século XXI: uma enxurrada de currículos para poucas vagas disponíveis. Então, o que um dia foi chamado de ‘processo de seleção’ acabou se transformando em ‘processo de eliminação’. Ao receber os currículos, as empresas começam eliminando os candidatos que não têm curso superior. Depois, entre os que têm, eliminam os que não se formaram em uma instituição de renome. Em seguida, peneiram os que não possuem MBA ou quali- ficações adicionais consideradas indispensáveis, como inglês fluente e conhecimentos de informática. Mesmo assim, sobram dezenas de candidatos para uma vaga. O passo seguinte é partir para a ava- liação comportamental. Há casos de “dinâmicas de grupo” que se tornaram folclóricas: entender como, exata- mente, carregar um ovo numa colher, escolher a frase que constará em sua lápide, ou decidir que bicho gostaria de ser, poderá ter qualquer influência no desempenho profissional... Porém – excessos à parte – a verdade é que um cargo absolutamente normal –caixadebanco, por exemplo– reque- ria 3 mil horas de estudo, na década de 1970 (o dito “ginasial completo”). Hoje, para a mesma função – e para um salário equivalente ao de 30 anos atrás – são necessárias 11 mil horas. Não porque as empresas decidiram que seria assim, mas porque os pos- tulantes às vagas se mostram dispos- tos a aceitá-las, mesmo sabendo que sua escolaridade vai muito além dos pré-requisitos para o desempenho da função. Emresumo, o funil ficoumuitomais es- treito. Nunca tivemos tantos jovens tão bem formados, e, proporcionalmente, nunca tivemos tão poucas vagas para jovens bem formados. REVISTA DA ESPM – Imaginando que esses critérios de seleção não mudem no futuro, que recomendações você daria às universidades e faculdades? MAX – Tentar, na medida do pos- sível, adaptar o currículo acadêmico às necessidades da vida profissional. Um exemplo. Praticamente, nenhuma faculdade oferece aOratória comodis- ciplina. Mas, no mercado de trabalho, a conversação ocupa pelo menos 80% do tempo de um profissional. É através da palavra falada que ele faz apresentações, expõe idéias, defende posições, constrói seu marketing pes- soal e influencia decisões de colegas – que é o primeiro passo para começar a escalar um organograma. REVISTA DA ESPM – Significa que as escolas deveriam enfatizar menos a formação técnico-profissional, em favor de mais ênfase em atitudes e comportamento? MAX – Sim, se elas realmentequiserem preparar profissionais para o mercado. O conhecimento técnico é indispen- sável para quem quer entrar em uma boaempresa.Mas, para semanter nela, e ascender na carreira, umprofissional precisademonstrar queéhábil também nessas “atitudes comportamentais”, a maioria das quais – de fato – não é ensinada em escolas. REVISTA DA ESPM – E depois de contratar o candidato, como a em- presa deveria agir? Deveria investir mais emoutros cursos, para completar a formação, ou deveria confiar no aprendizado prático, no desempenho da própria função? MAX – Muitas empresas já se arrepen- deram de financiar, para seus empre- gados, cursos que poderiam ajudá-los a mudar de emprego. As grandes con- AO RECEBER OS CURRÍCULOS, AS EMPRESAS COMEÇAM ELIMINANDO OS CANDIDATOS QUE NÃO TÊM CURSO SUPERIOR.

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