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84 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 Entrevista eu fico numa condição complicada, não posso me locomover – então não posso fazer mais nada? Quebrar o pescoço já é um problema, aí depois eu não posso freqüentar a minha fa- culdade? Isso émuito triste. Paramimé inadmissível a Prefeitura de São Paulo fazer umTelecentro e não lembrar que há um cego, que precisa de um com- putador com software de voz, porque – se tiver isso – ele deixa de ser cego. Se a Prefeitura fizer um Telecentro sem isso, ela estará desrespeitando a Constituição, limitando as pessoas que podem freqüentá-lo. JR – Apesar disso, Mara, continuamos sendo um país onde existem essas e outras deficiências. Você não sente frustração por ver que não se está fazendo um investimento maior no ensino básico, na educação para in- tegrar todas as pessoas? MARA – Nosso senador Cristovam Buarque grita por todos os lados a necessidade da educação. Acho que ele tem toda razão. Outro dia saiu no jornal uma notícia sobre a falta de capacitação do trabalhador brasileiro... Não se referia às pessoas com deficiência, mas são todos! Só que quando isso chega na pessoa com deficiência, torna-se aindamais grave. Vi uma pesquisa de que apenas 1% das mulheres com deficiência teve oportunidade de passar pela escola... JR – Ou seja, mesmo considerando o segmento de pessoas comdeficiência, deveriahaver umenorme investimento no ensino básico... MARA – Eu não desanimo.Veja omeu percurso. Primeiro, eu me acidentei e fiquei nessa situação. Aí comecei a travar contato coma situação das pes- soas comdeficiência, naminha cidade, no meu país e percebi como era difícil. Isso começou a me incomodar, causou umainquietaçãomuitogrande,entãofui lá e fundei uma organização... JR – Qual foi essa organização? MARA – Chamava-se Projeto Próximo Passo, hoje é o Instituto Mara Gabrilli – e o Projeto tornou-se um braço do instituto. JR – Quem bancou a sua organização? MARA – No começo ninguém bancou nada, eu fui atrás de patrocínio. Hoje são 85 atletas com deficiências, que competemdentroe foradoBrasil, atletas de ponta. A organização fica dentro da FórmulaAcademia. Eu tenhopatrocínio da Fórmula, da TAM, da Kappa, do Makro, comcestas básicas, tenhovários patrocíniosquemantêmosmeusatletas; aífuiampliando,porqueviaqueosmeus atletas tinhammuitadificuldadedeche- gar aos lugares; perdiam treinos, porque não conseguiam chegar, não conse- guiam fazer três quarteirões na mesma calçada. Entãoeucomecei aficarmuito brava, e decidi que queria mudar a ci- dade, foi quandomecandidatei averea- dora. Aí o destino tem caminhos muito loucos e acabei me tornando Secretária e comecei a trabalhar isso dentro do poderpúblico. Eunãodesanimoporque eu estou vendo que tudo estámudando - e a gente pode interferir. JR – Nesta sua área de atuação, não só a ação, mas a divulgação que você dá a ela, traz resultado? MARA – Traz resultados de impacto, e são resultados para toda a população: porque, se a cidade consegue acolher uma pessoa com deficiência, ela vai “COMECEI A FAZER CAMPANHAS EM RESTAURANTES, CONSEGUI PATROCÍNIOS...”

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