Capas .indd
85 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M Mara Cristina Gabrilli acolher todomundodeuma formamais generosa. JR –Você não acha que esse enfoque é um tipo de ação afirmativa, como a que se está discutindo em relação à questão racial, especialmente para os negros? MARA – Acho que é bem parecida. É a questãodadiversidadehumana.Aforma como se enxerga, a exclusão histórica, a falta de oportunidade que os negros tiveram, que é histórica. Houve lugares e períodos emque, quando nascia uma pessoacomdeficiência,eraenviadapara o sacrifício. Elas erammortas. JR – Contam isso dos gregos, de Esparta... MARA – Uma pessoa com de- ficiência não tinha capacidade de produção. Isso foi-se transformando, até gerou um certo assistencialismo, que acho que está mudando, porque não precisamos de assistencialismo, precisamos de oportunidade para produzir. E isso acontece de forma muito semelhante com o negro, porque as barreiras físicas impedem, atrapalham; mas nada atrapalha mais do que as barreiras de atitude. JR – Como você lida coma indiferença, que é a pior das barreiras? MARA – É a mais comum. A pessoa que não tem ninguém na família com deficiência, então não “cai a ficha” de que umdia ela será idosa e precisará de acessos fáceis, de manusear produtos commais facilidades, commenos gasto deenergia. Então, agecomosenãofosse com ela. Isso é resultado da falta de há- bito, de cultura, de convívio com essas pessoas. São os brasileiros invisíveis. JR – Escrevi um artigo, para o JB, cha- mado “Brasileiros Invisíveis”. MARA –Jura?!Poisháumdocumentário sendo produzido! JR – Você faz parte da associação dos ex-alunos da ESPM? MARA –Não, mas convivo commuitas pessoas que se formaram comigo. JR – Vou ser indiscreto: quantos anos você tem? MARA – 40. JR – O que você diria para os jovens da ESPM, que estão se formando agora? MARA – Diria o seguinte: não importa qual sejaaprofissão, emtudooque faze- mos,seousarmosserfelizes,tudosetrans- forma e dá qualidade ao nosso trabalho. Ser feliz parece uma coisa tão vaga, mas é uma condição a que todo mundo tem direito.Achoqueissotemdeserrefletido, pensado, resgatado. Se você se sentir incluído, se você consegue pensar em vocêmesmocomoagentetransformador, seconsegueenxergar ooutro, para tentar transformar a cidade e toda a sociedade numambientemelhor.Euacreditomuito que, se conseguimos melhorar a vida de uma pessoa, melhoramos a nossa. Por isso, quemtemoprivilégiode freqüentar uma faculdade tem a obrigação - e a oportunidade nas mãos -de transformar omundo paramelhor. JR –Você acha possível ensinar alguém a ser feliz? MARA – Eu acho que aprendemos com a vida, mas se observarmos exemplos, como algumas pessoas ousam ser fe- lizes, eu acho que isso é que influencia demais. É como ficar repetindo para umfilho: “nãomente, nãomente, não mente, que é feio!” É muito melhor você não mentir, pois nisso ele vai prestar atenção. “SE NÃO INICIASSE ALGUMA ATIVIDADE PROFISSIONAL, EU IA FICAR MUITO CHATA.” ES PM
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx