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Mesa- Redonda 94 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 “A EMPRESA ESTAVA ENTENDENDO CADA VEZ MENOS DA PARTE MAIS POBRE DO NOSSO MERCADO.” JR – Estamos reunidos para falar sobre Recursos Humanos. Como as nossas empresas e instituições encaram o seu desenvolvimento a partir do desenvolvimento das suas pessoas? Gostaria de pedir ao professor Gracioso que desse início ao debate. GRACIOSO – O t ema de s t a mesa-redonda é como atrair, desenvolver e motivar jovens dotados de talento, de capaci- dade administrativa para trans- formá-los nos executivos da empresa do futuro. Enfim, gestão de talentos. Não é novo, mas é, às vezes, insuficientemente compreendido. Participei de um almoço, com executivos da Unilever – que tem um dos mais tradicionais programas de trainees do Brasil – e ouvi que, depois de 25 anos de seleção de jovens vindos das elites, re- crutados nas melhores escolas, com bom inglês e conhecimento sob r e cu l t u ra s e s t range i ra s , começou- se a pe rcebe r que a empresa estava entendendo cada vez menos da parte mais pobre do nosso mercado. Muitos daqueles executivos, que tinham sido trainees , foram recrutados por conhecer bem o ambiente da empresa, muitas vezes até do exterior. Mas poucos conhe- ciam o próprio país. Cito este exemplo para mostrar que – por mais seguros que estejamos das soluções – haverá sempre algum pequeno ou grande problema pa ra a t rapa l ha r. Gos t a r i a de propor que falem das suas visões sobre gestão de talentos, hoje, no Brasil. LUIZ EDMUNDO – Acho que gestão de talentos deixou de ser uma questão local para ser global; porque – quando fala- mos de talento, na acepção do indivíduo que detém formação e competência especiais – essa pessoa também tem, hoje, uma condição que se chama mobi- lidade. Essa mobilidade resulta em que tenha poder de escolha, não somente dentro do próprio país, mas também em relação às oportunidades que as empre- sas globais oferecem ao redor do mundo. Os estudos sobre tendências globais mostram que já estamos vivendo – e continua- remos a viver – uma redução muito grande de talentos, desses que nós estamos falando, em- bora reconheça que o conceito de talento pressupõe uma visão mais ampla do que apenas um indivíduo com dotes especiais... JR – Como você definiria talento, do ponto de vista da sua empresa? LUIZ EDMUNDO – Na minha emp r e s a , con s i de r amo s que todos têm talento. Alguns têm talentos evidentes, mas muitos têm talentos que precisam ser descobertos e aflorados; e um time não se faz só com uma categoria, mas sim combinando as duas. Então é importante que se criem as condições para a organização aproveitar o melhor das pessoas. Especialmente na área de serviços, onde atuo, te- mos de ter essa visão amplificada de talento. Mas quando falamos de dirigir um negócio, ser um executivo top, estamos tratando mais do talento que o professor Gracioso citou. E é esse talento que está ficando cada vez mais escasso. É um problema mundial, que se tende a tornar sério nos próximos anos. Uma pesquisa feita pelo IMD, recentemente, dentro de um estudo chamado Global Trends, aponta que – a partir de 2010, daqui a 3 anos – vários países desenvolvidos vão enfrentar sérios problemas de talentos. GRACIOSO – Eles analisam as causas, também? LUIZ EDMUNDO – Por volta de 2015, haverá 33 a 35 milhões de universitários, dos quais 2/3 estarão em países em desen- volvimento. Quando olhamos o crescimento populacional dos países desenvolvidos, com taxas muito baixas, e as propostas de crescimento de empresas com taxas elevadas, é óbvio que vai haver um descompasso. JR – Elas cresceriam nos merca- dos emergentes? LUIZ EDMUNDO – A realidade dos mercados emergentes é dife- rente: há excesso de mão-de- obra e falta de qualificação.

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