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Mesa- Redonda 98 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2008 “FAZER COM QUE ESSES JOVENS VENHAM TRABALHAR NO DOMINGO É UM PROBLEMA...” pamentos) iria permitir a alguém comprometer o clima, os valores, o relacionamento etc. na empresa. A própria comunidade o expeliria antes. No passado, ouvíamos falar de pessoas que eram verdadeiras tiranas nos seus relacionamentos; hoje, ninguém mais aceita isso. Nenhum talento vai suportar um chefe tirano. PAULO – Quero aproveitar para falar sobre network. Ouvi, certa vez, que a gente vê quem é bom pelo número de cartões que guarda. Para mim isso é uma com- petência essencial da capacidade de relacionamento, e, por trás dessa capacidade, vem uma série de outras competências, como entender a multicultura e as dife- renças regionais nos países. Para mim o relacionamento, realmente, faz a diferença. Os programas de trainee formavam pessoas para serem líderes, mas líderes mais au- tocráticos do que interativos. Nas dinâmicas de grupo, valia quem era mais agressivo. Hoje, sabe- mos que as empresas mudaram o enfoque e olhamos as coisas de forma diferente, e aí o network é uma decorrência, não uma capaci- dade fundamental. E falamos de globalização, globalização... Mas o que é globalização e como é que eu me preparo? Que competências devo ter para ser um profissional globalizado? Aprendi isso ao longo da minha carreira: tem de estudar, buscar o conhecimento, mas tam- bém adquirir uma capacidade de entendimento multicultural que se traduz na capacidade de rela- cionamento entre os povos. J R – Considero-me leigo, na área de RH, mas participo de um grupo de discussão, na internet, de jovens executivos – e confesso que sinto certo desânimo. Eles são de várias empresas, e não percebo gente muito motivada, vestindo a camisa. Tenho até a impressão contrária. Estou sendo pessimista? LUIZ EDMUNDO – Nós temos acesso a uma pesquisa mundial, chamada Great Place to Work, da qual participam 500 mil empre- gados em 30 países. A questão de comprometimento com a empresa tem relação direta na conjugação de alguns elementos – se a pessoa consegue colocar no ambiente de trabalho a sua vocação, o quanto os seus potenciais e competências estão sendo aproveitados pela empresa, com oportunidades con- cretas, que ela possa demonstrar o seu valor, sua identidade e, ao mesmo tempo, colher os resulta- dos do que produz. Esses são alguns elementos que fazem com que pessoas tenham um grau de comprometimento elevado. Mas quero acrescentar algo além do RH tradicional, de que estamos tratando. Nas empresas, não tra- balhamos só com as pessoas da relação de CLT, mas com uma mul- tiplicidade de pessoas, na cadeia de valor: os stakeholders . Alguns são mais próximos do que outros, mas temos de cuidar para que essas relações na cadeia de valor sejam todas virtuosas, ou seja, não posso simplesmente fechar os olhos para os fornecedores, que vão contribuir para o valor do meu produto. Cada vez mais vamos ser organizadores de soluções. A Embraer não vende avião; vende solução. A Telhanorte, na verdade, oferece uma série de soluções, e a mesma coisa é a Dell. Então, temos de olhar o conceito de RH e expandi-lo, porque a motivação e a liderança têm de ser exercidas em pessoas sobre as quais não temos hierarquia. Assim se caracteriza um novo estilo de liderança, que transcende o ambiente de trabalho. A gente não deveria ser apenas um gestor de RH no sentido clássico. Hoje a empresa tem de liderar o seu contexto; o gestor de pessoas tem de ser um líder de resultados. CÉLIA – Eu quero trazer outro pon- to ao debate. De um lado é a busca por esse comprometimento, essa capacidade de fazer acontecer; do outro, as pessoas se sentindo esvaziadas, porque “apenas” tra- balham. Trabalham jornadas muito longas, que tiram o tempo para estudar história, ir à internet para pesquisar; as distâncias são muito grandes, São Paulo tem um trânsito horrível... rouba-se das pessoas a vida familiar. Então é uma situação complexa, para se buscar moti- vação. Queria saber como vocês estão sentindo isso. PAULO – Os profissionais que eu conheço e que, normalmente, estão descontentes, desmotiva- dos, em geral não estão fazendo o que gostam. Foram até pessoas
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