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PERCIVAL CAROPRESO A Percival Caropreso - Conselheiro da ESPM e Presidente da Setor 2 ½ ONDE ES PM partir das mudanças geopolíticas dos últimos 20 anos oficializou-se um novo mundo, cuja ideologia é o Capital. Está aí amaioria dos grandes grupos corporativos globais, que não me deixam mentir. Eles podem até ter origem definida, mas che- gam a um gigantismo no qual fica difícil preservar identidade e cultura que não sejam apenas as de negócios. Os grupos se concentram. O Capital se concentra. Fusões e aquisições acumulam ações, ativos tangíveis e mercados, agra- vando a falta de identidade e de cultura. Quanto maior a concentração de capital e de operações, mais difícil liderar esse conjunto de ativos. Como liderar? Afinal, liderar é inspirar, compartilhar e promover realizações comuns, para então conquis- tar poder naturalmente. Já que não há como liderar organica- mente, então só resta controlar. Quem não conquista poder, é forçado a criar mecanismos artificiais de controle. Mecanismos de controle até garantem disciplina de processos, obediência a procedimentos, respeito a estratégias, cumprimento de metas e objetivos. Mas não constroem envolvimento, partici- pação, pertencimento. Não geramautoria e orgulho de todos pelos resultados. Esse acúmulo apenas de hardwares, nos quais não rodam softwares apaixonados, produz efeitos no perfil e no caráter dos profissionais. Prevalece a maior remunera- çãodoempregoao invésda realizaçãopela contribuição e desempenho no trabalho. Atingir metas, alcançar objetivos, dar re- sultados, tudo issogaranteaumentosalarial, bonificações e promoção hierárquica, não satisfação profissional. A competição entre pares valemais que a interdependência co- laborativaemequipe.Crescernomercadoe para omercado de trabalho émais negócio do que crescer dentro da própria empresa. Já que o foco é o negócio e os ganhos de negócio, a lógica é a do curto prazo, porque o capital é impaciente. A lógica é a do custo-benefício restrito, não a do custo-sacrifício que vale a pena. A lógica é a do acúmulo, porque o capital é quan- titativo. A lógica é a do crescimento em escala, não a do desenvolvimento com- partilhado, portanto sustentável. O Instituto Socioambiental – ISA – uma das ONGs brasileiras mais respeitadas no mundo por suas convicções, práti- cas e resultados socioambientais, tem como diretriz: “Desenvolvimento, sim. Mas não a qualquer custo”. Um dos grandes pensadores da ideologia do ISA é o antropólogo EduardoVivei- ros de Castro, a quem peço desculpas por ousar interpretar suas idéias para o nosso mundo de negócios e tra- balho, de maneira tão simplista. Ele deixa claro, não onde vamos parar, mas as razões por que estamos camin- hando para esse destino triste. Dentre todas as forças da Natureza, o Homem é a única que se julgou superior e exerceu a pretensão de dominar todas as outras. Rompeu com os princípios da Diversidade: a variação complexa de el- ementos que se interdependem naquilo que é o movimento da vida. Ignorou a idéia do Múltiplo: qualidades diferentes que não se totalizam numa coisa só; cada uma tem vida própria, mas todas têm vida comum. Desrespeitou a noção de Suficiência: para todos viverem bem, precisamos exatamente daquilo que precisamos; muito pouco é necessário, quase tudo é suficiente. Este é o caminho a seguir: a adoção de um novo modelo mental na nossa visão de vida, na gestão das empresas e na condução do mundo. O modelo do desenvolvimento sustentável. Entender que riqueza não consiste no acúmulo do que já temos, mas sim em investir no que não temos. Ou, diante da vulnerabilidade socioambiental de hoje, riqueza consiste emrecuperar o equilíbrio social e qualidade ambiental. É da nossa natureza buscar a sobrevivên- cia hoje e garanti-la para o amanhã.Toda e qualquer atividade humana sempre se preocupou como seu próprio desenvolvi- mento sustentável, ainda que intuitiva- mente, desde que o mundo é mundo. Do ponto de vista dos negócios, sus- tentabilidade nada mais é que criar valor e riqueza nomercado de hoje, já forjando as condições para perpetuar esse valor e essa riqueza no futuro. O desenvolvimento sustentável é o caminho que nos levará a um destino diferente deste para o qual estamos indo. É de interesse corporativo e de negócios, porque compartilha responsabilidade e autoridade entre os públicos da em- presa, atraindo todos para a construção de resultados de curto prazo que têm, também, o compromisso com resultados de longo prazo para a empresa, seus pares e o mundo. Afinal, não há negócio que prospere por muito tempo numa sociedade frágil e desequilibrada, em um mundo devastado. Usando a lógica dos negócios de hoje, essa mudança para o modelo de gestão sustentável tem de ser em escala e é urgente. O tecido social, os recursos naturais e o tempo estão se esgotando rapidamente. Esse processo vai levar tempo, mas temde acelerar já na prática e não no discurso. Daqui a alguns anos não quero dizer para meus netos que eu era feliz em 2008 e não sabia. DEPENDE DO CAMINHO QUE ESCOLHERMOS SEGUIR PARAR? VAMOS Ponto de vista

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