Capa3.indd

Ivan Zurita 19 JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M muito mais cuidar das pessoas e administrá-las para que não se es- tressem. Faço várias reuniões por ano com todos os funcionários, com o Sindicato, para sentir o que está acontecendo na Organização. No nosso caso, o “dono” nunca está, todo mundo é empregado. Antigamente havia o andar da diretoria; hoje não existe mais. Eu criei um correio “o Presidente e você” – qualquer funcionário da companhia escreve para mim e eu respondo. Esse é o “paternalismo de hoje”. Todos entendem isso, e inclusive tenho bons exemplos do passado, das pessoas que cos- tumo citar. Um exemplo que me marcou muito, foi na minha gestão na Nicarágua. Os sandinistas ata- caram a Nestlé, levaram cadeiras, mesas, tijolos, portas, tudo. Com o dinheiro que tínhamos em caixa compramos jipes, ônibus russos, e eu falei “comprem o que encon- trar”. Passaram-se alguns meses, as coisas se organizaram, nós vendemos esses ativos e recons- truímos a Nestlé. No Brasil, a Nestlé está identificada com o consumidor e o respeita há 87 anos. Essa cultura da história da empresa é fundamental. Algumas vezes somos obrigados a tomar decisões de que não gostaria, mas tudo é feito abertamente, somos transparentes: “A unidade tal fechei por tais e tais motivos”. Com todos os problemas sociais que possam acarretar, indenizan- do, colocamos headhunters para recolocar as pessoas. E todos en- tendem. Em contrapartida, vamos fazer um projeto social, alfabetizar os idosos... Esse equilíbrio e essa disciplina na gestão dos recursos da empresa são fundamentais. CÉLIA – E como é a qualidade dos líderes, hoje – dos diretores, gerentes e supervisores? IVAN – Esse é sempre o maior desafio. São 17 diretores na unidade da presidência, mas a luta é permanente. A mudança, a cobrança, têm de começar no nível mais alto, caso contrário não funciona.. Tenho um grande relacionamento com as 28 fábri- cas, conheço muita gente pelo nome, estou sempre presente, mas o fundamental é saber o que está acontecendo. A administração e a gestão do estresse também é fundamental, respeitando, claro, o nosso limite. E percebemos que hoje as pessoas administram me- lhor esse limite. GRACIOSO – E para onde vai a empresa? Daqui a dez anos, você imagina a Nestlé com a mesma filosofia, a mesma estrutura básica ou haverá ainda mais mudanças? IVAN – Em termos de recursos, de tecnologia muito ainda vai acontecer na alimentação futura. Temos um centro de pesquisas, investimos quatro milhões de francos suíços por ano em desen- volvimento e há muito o que fazer na alimentação, para agregar valores. Já temos uma experiência nos Estados Unidos onde – através do exame de sangue – recebe- se uma receita da alimentação correta que vai evitar, no futuro, certas doenças. Isso é a obrigação de uma empresa líder desenvolver e colocar no mercado. Nos as- sociamos ao álcool, à L´oreal, compramos a parte de nutrição da Novartis, porque são tecnolo- gias importantes que dão veloci- dade aos projetos. Na Nestlé a preocupação é alimentação e cultura. Amanhã não sabemos se um comprimido, de repente, resolve o nosso problema. Acho que nossa obrigação não é ser um laboratório, mas, através da alimentação, contribuir para o aumento da longevidade. CÉLIA – Se eu tiver direito a uma última pergunta, eu gostaria de perguntar sobre as qualidades do líder do futuro. IVAN – Existem muitos aspectos. Mas a sensibilidade humana independe de tecnologia e ela é fundamental. Também estar presente, independente do tama- nho da organização. Na minha função, por exemplo, compartilho pressões com o primeiro nível de uma maneira; com o segundo de outra, e assim por diante. Todos sabem quanto ganha a compa- nhia, se vai bem ou se vai mal; essa transparência na gestão é fundamental para que todos parti- cipem. Quando mudamos para esse edifício, até fiz uma campa- nha “é tempo de mudança”; não era mudança sobre o edifício, mas na maneira de operar, na maneira de trabalhar, na maneira de en- xergar as coisas. CÉLIA – Quantas horas por dia você trabalha? IVAN – Umas doze horas. Às vezes exagero um pouco, mas é dinâmico e muito prazeroso também. CÉLIA – Percebe-se. ES PM

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx