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André Cauduro D’Angelo 25 JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M ANDRÉ CAUDURO D’ANGELO Mestre em Administração/Marketing pela UFRGS e consultor de empre- sas. Autor de “Precisar, não precisa – um olhar sobre o consumo de luxo no Brasil” (Editora Lazuli). www. precisarnaoprecisa.com.br . livro@ precisarnaoprecisa.com.br cujo mérito está em poder exceder os limites da economia. Afinal, cada egresso de companhias de classe mundial tende a incorporar parte do ethos corporativo bem-sucedido não só à sua vida profissional, como tam- bém pessoal. Mais do que standards gerenciais úteis à carreira, valores assimilados em empresas brasileiras de ponta podem ser carregados para a criação dos filhos, a administração do condomínio ou o engajamento em causas comunitárias – todas aquelas atividades cotidianas que, em última análise, traduzem o caráter de um país. O efeito trans- formador da ascensão dessa parcela do setor privado pode, assim, ser potencializado na vida diária, ao romper a fronteira econômica e chegar à esfera cultural. As grandes multinacionais brasilei- ras são um privilégio com o qual outras nações sul-americanas não contam. Marcus Aguinis, intelec- tual argentino, atribui o fracasso econômico e social de seu país à nefasta tradição cultural de opor- tunismo e corrupção trazida desde a colonização espanhola. Ainda que nos últimos anos a Argentina venha experimentando uma recuperação econômica, Aguinis não temmuito o que comemorar: não há nem sombra de uma Embraer, Gerdau ou Vale em seu país que o permita sonhar, sequer, com a criação de pólos de modernidade em meio a um país de mentalidade arcaica. A tese defendida pelos apóstolos do “choque cultural” é passível de discussão, uma vez que traços de caráter enraizados não levariam menos de uma geração para ser modificados. As múltis, de al- guma forma, contrariaram essa hipótese, embora deva-se recon- hecer que constituem exceções quando se examina o cenário político-econômico brasileiro de maneira mais abrangente. Permanecerão como ilhas de excelência ou terão a companhia de outros players brasileiros de classe mundial? Estenderão – se é que já não estendem – seu modus pensante vencedor por todo o setor privado e, quiçá, público? Fica a dúvida, e esta só o tempo poderá dirimir. Certo é que, até agora, os benefícios e as lições derivados de seu sucesso vão muito além dos números. Sem exagero, Jorge Paulo Lemann (In- Bev), Jorge Gerdau Johannpeter, Maurício Botelho (Embraer) e Roger Agnelli (Vale), ao deixarem suas carreiras empresariais, poderão dizer com convicção que seu maior legado como homens de negócio foi menos econômico que civilizatório, tal qual como gostaria de afirmar qualquer ex- presidente da república. Fica em aberto a discussão se, de fato, o que essas empresas promoveram foi a cons- trução de um conjunto de princípios paralelo àquele visto como vigente no país ou se simplesmente souberam despertar capacidades e valores adormecidos. Poderão dizer com convicção que seu maior legado como homens de negócio foi menos econômico que civilizatório, tal qual como gostaria de afirmar qualquer ex-presidente da república. ES PM Google Images

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