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Christina Carvalho Pinto 41 JULHO / AGOSTO DE 2008 – R E V I S T A D A E S P M sendo otimista, acredito – de fato, não se trata exatamente de otimismo nesse caso – que o ser humano não seja mau, eque tudoaquiloqueagente fazdemal na vida não é fruto da maldade, mas da ignorância; tenho uma fé infinita no ser humano.Anossa ignorância emrelação aos própriosmecanismos da vida levou- nos à situaçãoemquenos encontramos; essaignorâncianosfezacreditarquenão somos suficientemente interessantes e que, portanto, precisamos deumagorda contabancária,deumcarronovoacada ano,daroupamaiscara(multiplicadapor mil), deumiate, deumaposição impres- sionante na sociedade, apenas para ter o “direito de existir”... Essa é uma grande quimera. Ter comprado essa quimera e deixado que ela tragasse nosso destino é o que nos levou ao descolamento de nós mesmos. GRACIOSO – Das nossas origens, talvez... É curioso como as sociedades primitivas têmumanoçãoclaradas suas obrigações com a comunidade, a natu- reza. Outro dia eu lia o depoimento de umcacique Ianomâmi, àocasiãodeum encontro na fronteira com aVenezuela, em que o cacique descrevia os valores doseupovo; elediziaqueos Ianomâmis haviam sido criados por Deus (na con- cepçãodeles)paraquepudessemajudá- Lo – vejam só! – a segurar a metade superior do mundo e torná-lo assim um poucomelhor doquequandoo recebe- mos,eque,quandomorrerem,Deusco- brará deles essa tarefa: “Vocês cuidaram bemdanatureza”?É justamente issoque o mundo moderno esqueceu. CHRISTINA –Opioréqueomundonão esqueceu, senão que essa preocupação foi extirpada “a fórceps” por ummode- lo socioeconômico autodestrutivo. Por exemplo,bastaobservarosvocabulários “bélicos”queseusamdentrodasempre- sas: target ,planejamento,estratégia, take- over e por aí vai. É tudomuito agressivo, pesado, como se o cenário de trabalho nãofosseadequadoaosentimento.“Sen- timento é para tolos; lugar de trabalho é para “bad boys”, “bad girls”...”; isso não é verdade. Os próprios seres humanos – e aqui incluo os líderes diversos em primeiríssimolugar–sãocúmplicesdeste processo,emgrandemedidadevidoàin- consciência,àignorânciaouatéporfalta de uma saída. Acredito que, pelo fato de termos chegado a esse esgotamento, começará–aliás,jácomeçou–ogrande saltoparaumamudançaradicaldepara- digma.Nãotemosmais–eteremoscada vez menos – tempo para maquiagens, reforminhas pequenas, detalhezinhos. Dentrodestesistemacruel,sequeraidéia de “reforma” possui ainda viabilidade: a mudança precisa ser radical. O que as pessoas precisam compreender é que o assim chamado “sacrifício” - o preço a se pagar por essa mudança radical -no fundo, no fundo não dói nada; apenas proporciona o conforto de nos reposi- cionar no lugar certo. GRACIOSO – Caso existam, gostaria de que você citasse empresas que, na suaopinião, continuamprósperasmuito embora tenham aceitado essa doutrina da sustentabilidade. CHRISTINA – Se me permite, queria corrigir uma coisa: não é apesar de, mas justamente devido ao fato de que a adotaram. Hoje, o carro mais desejado no mercado americano é o Prius da Toyota, um carro elétrico que consome pouco combustível. Há muito tempo. Temfilademaisdeumanoparacomprar um Prius, enquanto isso a Ford e a GM estão quebradas. Aludindo à citação do Schweitzer, sobre exemplos, estou usando dois negativos.As empresas que não efetuarem essa mutação interna e externa da sua cultura, reconhecendo o quanto isso importa, estarão fadadas a encerrar suasatividades.Aíoempresário se pergunta: “terei de mudar o meu sis- temaprodutivo?Aminhaculturainterna? Terei de mudar maquinários? Tudo isso vai se tornar obsoleto? Mas eu investi milhões e milhões numa nova fábrica “O CARRO MAIS DESEJADO NO MERCADO AMERICANO É O PRIUS.” Ð
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